Nicolas Sarkozy é sem dúvida um candidato da direita, pelo menos da direita francesa. É igualmente um homem com ideas "refrescantes", pelo menos no sentido em que são diferentes do habitual. Infelizmente, muitas dessas ideias são mais tributárias de um patriotismo mal informado, tributário de valores chauvinistas e pouco portadores de futuro. Além disso, tem vindo a "moderar" o seu discurso, no sentido de o tornar mais digerível pelo "centrão" francês, o que não augura nada de bom para a França. Mas isso é um problema deles.
Concretamente, a nós portugueses, o que nos deve preocupar em Sarkozy é o seguinte: se a Europa é uma ideia, um modelo de organização social produto e tributário de uma longa e rica tradição e experiência histórica, então ela não tem fronteiras, pelo menos não no sentido excludente, geográficamente delimitado ou qualquer outro, em que muitos políticos europeus se procuram refugiar para procurar levar os seus povos a esquecer os erros mais recentes, sobretudo de precipitação no último alargamento e de falta de visão quanto à Europa de amanhã.
Se, pelo contrário, a Europa é apenas um instrumento político de afirmação de certos interesses e poderes, então a Europa precisa de fronteiras, na justa medida em que cada País se sinta ameaçado na sua capacidade de influenciar, leia-se determinar, o curso dessa mesma Europa. Nesse sentido, a França precisa que a Europa tenha fronteiras, de preferência as actuais - que, aliás, são já consideradas excessivas. Qualquer lampejo de Europa-potência, deve, na opinião desses políticos, ser entendido como uma extensão da potência-França, que esperam conseguir reafirmar. A Portugal estas visões da Europa não interessam, ainda que propostas por políticos de direita.
No entanto, o pior que Sarkozy pode vir a trazer é um novo espectáculo de divisão e desentendimento entre os políticos da direita francesa. Chirac é mestre nessas jogadas e, a julgar pelo que tem dito os seus próximos incluindo a sua própria mulher, ainda não jogou a sua última carta. Que bem pode tramar Sarkozy, nomeadamente favorecendo - uma vez mais - Le Pen.
A ver vamos...
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