sexta-feira, maio 12, 2006

Ota e otários VII

Porém, concluir que a ligação de Lisboa a Madrid não será a ideal, pelo menos nesta perspectiva, não responde integralmente à questão da perificidade ferroviária do País em relação à Europa. Vamos admitir que a ligação por TGV de Lisboa a Madrid permitirá viajar de Lisboa a Barcelona por TGV; não se vê como é que essa ligação será competitiva, quer ao nível dos custos, quer ao nível do tempo, ainda que se admita que venha a existir essa oferta de ligação directa (Lisboa-Barcelona). Escusado será dizer que o mesmo argumento é válido, com agravantes, para quaisquer ligações para lá dos Pirinéus. Por conseguinte, quanto a combate à perificidade, estamos conversados.

Ainda assim, admita-se que o objectivo é permitir a utilização do potencial da ligação de Madrid a todas as capitais regionais ibéricas, através da ligação de Lisboa a Madrid. E admita-se até que isso pode tornar rentável a exploração daquela ligação – levando mais pessoas de Lisboa a Madrid, e volta, para reuniões com os seus parceiros sedeados nas outras capitais regionais de Espanha. Resta, nesta hipótese extraordinária, o problema das ligações aéreas, que ou vão perder muitos passageiros (libertando a Portela) ou vão esvaziar os TGV de Lisboa para Madrid, como é pura e simplesmente lógico.

Responder-se-á: problema dos investidores privados que queiram explorar essa ligação. Talvez. Mas isso implica, no mínimo, que a CP não se envolva na aventura, o que não é adquirido nem muito menos provável, e que os privados façam as contas e as concluam tão optimistas como as começaram, o que parece altamente improvável – a não ser que o Estado, isto é NÓS e os nossos impostos, invente uma PPP (parceria público-privada), através da qual garante a esses privados o privilégio de enriquecer à NOSSA custa, através de investimentos de capital sem risco (e com as naturais e habituais compensações em cargos de administração a distribuir parcimoniosamente entre os senhores que entretanto adquiriram experiência de gestão no mesmo Estado!). Tempos houve em que o inimigo a abater era o grande capital (sim, porque o pequeno capital nunca é chamado a beneficiar deste tipo de esquemas – vá se lá saber porquê)…

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