sexta-feira, maio 12, 2006

Ota e otários III

Passemos então aos pormaiores das decisões já conhecidas.

Convém sublinhar que a opção pela Ota não responde às questões que o Governo coloca, nem muito menos parece adequada à diminuição da condição periférica de que se falou.

É evidente que a ligação de Lisboa, capital do País, ao Mundo e à Europa, beneficia da situação actual do seu aeroporto. Pelo menos na perspectiva das ligações ponto-a-ponto (i.e., ligações directas). Nesta mesma perspectiva, também as outras regiões do país beneficiam da existência e aproveitamento dos actuais aeroportos do Porto e de Faro, para já não falar das Ilhas. Ligações essas que, convém não esquecer, tem potencial para desenvolvimento. O que, estranhamente ou talvez não, não faz parte do discurso sobre estas questões.

Ora, o argumento de que a Portela está em vias de esgotar a sua capacidade é falacioso, pelo menos na medida em que os seus números de passageiros são ampla, clara e indubitavelmente inflacionados pelo número de passageiros que lhe chegam para apanharem ligações para outros destinos que não a região de Lisboa – que, aliás, são cuidadosamente escondidos do debate sobre esta matéria.

Assumindo que esses números são significativos, como decorre da experiência de qualquer pessoa que queira viajar do Porto ao Rio de Janeiro (ou mesmo, mais prosaicamente, para o Luxemburgo) e como parece ser confirmado pelos próprios estudos sobre a utilização da Portela (andarão nos 40 e muitos por cento do total anual) também se pode assumir sem ser faccioso, que se retirarmos aqueles passageiros da Portela, este aeroporto verá a sua longevidade claramente alargada, pelo menos para os passageiros que escolhem Lisboa e a sua região como destino. É pura e simplesmente lógico.

Como também é lógico, pura e simplesmente, que os outros aeroportos nacionais poderão beneficiar de um aumento do número de voos directos para um maior número de destinos – i.e., sem ter de passar pela Portela. E, por incrível que pareça, os recentes desenvolvimentos da construção aeronáutica favorecem uma possível opção neste sentido: já se estão a construir e vender maiores aviões, capazes de transportar maior número de passageiros por voo; tanto a Airbus como a Boeing já estão a comercializar aviões que permitem rentabilizar ligações intercontinentais directas; e a Airbus comercializa já um avião que permite transportar mais passageiros por voo, o que permite (aliás foi feito mesmo com esse objectivo) aumentar o número de passageiros sem acrescentar ao número de voos.

Já para não dizer que há outros aeroportos no País que poderiam beneficiar de uma opção neste sentido (já se falou da Figueira da Foz, de Alverca, de Beja, Bragança já beneficia de ligações directas a Paris, etc.), assim como alguns dos actuais aeroportos poderiam beneficiar de um maior número de ligações – por exemplo, Sá Carneiro de uma melhor oferta para África e para o Brasil, graças à sua posição privilegiada no Nordeste da Península. Mesmo que isso implique outro tipo de investimentos, noutro tipo de infra-estruturas complementares.

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