quarta-feira, maio 03, 2006

Congressos e futuros V

Criatividade.

O primeiro e mais importante recurso de qualquer nação, aliás razão mesma da sua própria existência, são os seus cidadãos. No mundo que já se adivinha, isto significa sobretudo capacidade intelectual disponível. É por aí que se encontram as respostas aos desafios actuais e futuros. O que implica que a actividade colectiva mais importante de uma sociedade organizada é a da formação dos seus cidadãos.

Tradicionalmente, Portugal é tido como um País onde a criatividade abunda. Não será uma característica exclusiva do nosso País, mas é uma que nos pode incutir alguma confiança para o futuro. Porém, a criatividade só é economicamente rentável se for enquadrada num contexto em que as condições do seu exercício são adequadas. Isso depende, antes de mais, dum ambiente aberto ao risco, à iniciativa e ao livre-arbítrio. São estes os factores essenciais que um sistema educativo virado para o futuro terá de acentuar. Isso implica, uma vez mais, a destruição do actual sistema centralizado de condução do sistema escolar e de ensino. Só com um sistema educativo mais flexível será possível libertar o potencial de criatividade que os portugueses possam conter em si.

Esta deveria ser a prioridade das prioridades nacionais. Esta deveria ser a matéria em que o CDS deveria dispender maiores esforços. É preciso encontrar propostas sensatas para a destruição do actual sistema e a sua substituição por um outro mais flexível e mais adaptado ao presente e ao futuro - recordemos que a resposta do sistema de ensino, em princípio, é produzida no prazo mínimo de 12 anos.

É necessário construir ou permitir a construção de um sistema que responsabilize os cidadãos pela maximização do seu potencial cultural e profissional. É preciso promover a diferenciação do sistema de ensino por forma a permitir que cada um dê o máximo que lhe é possível, ou pelo menos que essa seja a regra e o seu contrário a excepção. É dessa forma que se promove a inclusão e se preparam os cidadãos autónomos de que a sociedade de amanhã vai necessitar. É imperativo construir um sistema que premeie o risco e o gosto pela inovação; só dessa forma será possível alargar as elites e a classe média, do mesmo passo reduzindo os estractos mais desfavorecidos, visto que só dessa forma será possível encontrar fontes de rendimento superiores às que os serviços do Estado poderão assegurar.

Para tal, será necessário readequar o sentido do conceito de segurança. Este tem de ser desligado do emprego actual, através de maior flexibilidade da legislação laboral, para passar a estar conexo à certeza de encontrar ocupações úteis, seja as que privadamente a criatividade possa permitir, seja as que colectivamente sejam impostas, nas actividades não rentabilizáveis mas socialmente úteis, como contrapartida de uma remuneração digna que assegure o sentimento de pertença a um todo que faz sentido e para o qual se tem vontade de contribuir.

Um sistema que, dessa forma, assegure os mínimos socialmente aceitáveis, contra a prestação das referidas actividades ou um investimento na aquisição de novas competências, será não apenas mais justo, como também mais responsabilizante e promotor de inclusão. Permitirá acabar com o ócio como modo de vida. Terá ainda a vantagem de estimular o risco como fonte de aumento de rendimentos. O que apela a um maior recurso de cada um à sua própria criatividade.

Portugal dispõe ainda abundantemente de um outro recurso natural que poderá ser fonte de muita aplicação de criatividade, muita inovação e muita riqueza: o mar, essa última fronteira por conquistar do nosso cada vez mais pequeno mundo. Dele poderão resultar energias, recursos alimentares, aplicações científicas, etc. Basta que o País embarque novamente numa epopeia marítima de longo prazo, consistentemente suportada por um investimento no conhecimento, através das universidades e institutos públicos, a que poderão e deverão ser associados os recursos do sector privado, quer nos aspectos tecnológicos quer nos aspectos científicos. Por exemplo para combater a escassez de água que o futuro antecipável trará; ou para produzir energia de forma renovável; ou para rentabilizar a atractividade do país para destino de novos investimentos, quer de segunda ou última habitação, quer de formas de aproveitamento dessa inesgotável fonte de recursos; ou para desenvolver tecnologias e bio-tecnologias de que o futuro será enorme consumidor; ou para permitir a criação de uma rede de competências de conhecimento nacionais com valor planetário.

Sem ter querido ser exaustivo, espero ter de alguma forma contribuído para demonstrar o que deveria ser o objecto dos congressos partidários: a apresentação e o debate de visões para o País.

Para aqueles que correm o risco de nesta altura sentirem fugir a esperança, recordaria apenas que não é só para o mal que se aplica o dito: os cães ladram e a caravana passa.

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