terça-feira, janeiro 24, 2006

Verter fel

A indignação que o José Mexia aqui expressou, relativamente ao artigo de Vital Moreira hoje no Público, é um grito de alma, contra o mais larvar ressabiamento por mau perder. Vital, no seu azedo opúsculo, desde logo qualifica a vitória de Cavaco Silva como "FRACA". Primeiro, tratou-se de uma vitória, e não foi de Pirro; segundo, foi à primeira volta, deixando os adversários a cerca de 30% de pontos de distância, ou seja separados por 1 milhão e seiscentos mil votos; terceiro, repete a referida expressão por três vezes. Percebe-se: fraco é sinónimo de coisa tíbia, sem valor, imerecida, volúvel, rasca até. Porque não usar "pequena", "reduzida", "por pouco", "à tangente", "diminuta", "frágil" ? seguramente porque não têm o sentido pejorativo daqueloutra expressão. Quarta, jogando com os conceitos, nomeia a parte pelo todo, e em vez de qualificar de "fraca" a margem da vitória (o que seria admissível, afinal foram mais de 30% de diferença), apresenta a vitória, ela própria, como sendo "fraca"; Quinto, menospreza a personalidade de Cavaco Silva, chegando a ser calunioso ao compará-lo com as alegadas virtudes olímpicas de Soares e Sampaio. E vai mais longe... ao julgar o próprio eleitorado: dizendo que a não eleição de Soares acrescentaria uma aura de injustiça e ingratidão histórica face ao seu sacrifício pessoal. Que injustiça, porventura, existirá quando o país reelegeu o homem e voltou a sufragá-lo aquando das eleições para o Parlamento Europeu? Será que o eleitorado, por penhor, deveria elegê-lo sempre que ele quisesse ? E qual foi o "sacrifício pessoal" de Soares? Impedir um passeio cavaquista pela Av.ª da Liberdade? Que grande causa foi esta ? Será que não passou - como o julgamento do escrutínio democrático o demonstrou - duma causa política de polichinelo? Parece avisado reconhecer que sim. Caso contrário teríamos o país como coutada de Soares e da sua entourage. E, sempre se diga, que, em termos de ingratidão que dizer, então, das eleições de há dez anos? Onde o país ofereceu uma vitória a Sampaio olvidando mais de 10 anos de entrega à causa pública do ex-Primeiro-Ministro. E, assim, valorizou o candidato Sampaio que não tinha qualquer passado político de relevo para além de ter sido Presidente da Câmara de Lisboa e - noblesse oblige - "resistente" anti-fascista. Ainda assim, convém referir que ao cultamente aristocrata Sampaio não lhe são conhecidos grandes "actos de cultura" (com a justa excepção da criação de um museu da presidência, e convidar a pintora Paula Rego para pintar o seu retrato e os quadros para a capela do Palácio de Belém....!) Que actos de supina erudição lhe são assacados?
Aliás, e a propósito de justos merecimentos, cremos até, que o efeito simbólico da vitória (de Sampaio/96)- por demérito - teve um efeito exemplar muito pernicioso a nível do sistema político.
E dando de barato que o ainda presidente fosse um monumento de cultura, porquê falar em "despromoção" com Cavaco Silva, como diz no seu blog? Nem Soares ousou dizer semelhante.....!!! Numa palavra, pretende-se diminuir uma vitória que só tem uma exclusiva leitura: Cavaco foi primeiro à primeira!!! E diminuir a credibilidade intocada do eleito presidente. Tal cegueira de valoração, só pode ter uma explicação : mau perder!!! Cuja derrota, de tão pesada e humilhante, se tornou um fardo grave e não digerível, quer por Vital, quer pelos consortes do Partido Socialista.

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