Começando por recordar que o actual primeiro-ministro iniciou a sua carreira política no PSD, acho-me a questionar o que raio terá o homem perdido no passado dia 22 de Janeiro. E não consigo descobrir grande coisa. Desde logo, e isso é consensual, o Presidente da República ideal para Sócrates é sem sombra de dúvida Cavaco Silva. Pela confluência de pontos de vista políticos e de certezas em termos de 'como fazer o quê'. Por outro lado, Sócrates, com a vitória de Cavaco, ganhou o partido: deu a entender a todos que o soarismo está morto - só faltava enterrá-lo, o que sucedeu no domingo passado - e que, alavancado na sua (muito sua) maioria absoluta, o partido deve trilhar o caminho que ele próprio lhe quererá passar a imprimir, deixando de parte os (poucos) maniqueismos de esquerda que ainda lhe restavam das (poucas) facções que se recordam dos tempos do PREC. Ganhou, com Cavaco, o reforço dos que apoiam as suas políticas, tidas como contrárias aos interesses da esquerda - aumentando o espectro dos populares que, por via no voto em Cavaco, se preparam para arcar com as suas consequências. Mas afinal de contas, Sócrates perdeu o quê? Será de recordar que o PSD de Cavaco Silva apoiou a segunda candidatura de Mário Soares, ganhando, mas por isso perdendo. Neste caso, dá-se o inverso: Sócrates perde, mas por isso ganha. Imagino até que, no passado dia 22 e a coberto do anonimato daquelas cabines pessoais onde se colocam as cruzinha, tenha fechado os olhos e votado Cavaco.
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