Por oitocentos, Karl Marx, lançou as bases de uma teoria finalista da História, cuja derradeira etapa, seria a ditadura do proletariado. Esta concepção evolutiva do Homem é, antes de mais, altamente limitativa. Não aceita a existência de novas soluções, de novas concepções e é, altamente, egocêntrica ao não supor o imponderável devir dos tempos. Todavia, influenciou de forma indelével, toda a análise histórico-filosófica que lhe sucedeu. Nomeadamente, o pensamento do século passado é-lhe, mesmo quando não é evidente, altamente tributário. Aliás, um dos aspectos mais curiosos é o conceito de pós-modernidade. Este conceito é um paradoxo e uma contradição nos próprios termos, pois, a pós-modernidade, no seu sentido filológico-literal, não existe. Seria o tempo depois dos últimos tempos. Ora, é aqui, precisamente, que se pressente a teoria finalista marxista da História. Ao admitir um fim da evolução humana, concretizado nos antigos regimes de Leste, banalizou-se, em termos conceptuais, a ideia de modernidade. Ora, se tudo já foi experimentado, criado, se chegamos ao objectivo limite da nossa existência, tudo o que estiver para além, ultrapassa o moderno, o último, é o pós-limite, o pós-moderno.
Vem isto a propósito dos últimos acontecimentos em França. Muitas são as suas explicações. E, de facto, à miríade de contingências do fenómeno, soma-se a especificidade do seu contexto económico, social e histórico. Sendo até curiosa a última constatação, politicamente incorrecta, acerca da monogamia versus poligamia.
Muito embora, a busca das causas últimas e a existência desta consciência de que chegamos e vivemos um tempo para além da própria modernidade, faz-nos estranhar, não aceitando, que fenómenos como estes, e seus equivalentes, não são a excepção na História do Homem, mas a regra. De facto, um dos quatro cavaleiros do apocalipse é, precisamente, a guerra (leia-se a violência). A caixa que, um dia, Pandora abriu, só se encerrá no dia em que morrer o último homem. Achar que estes acontecimentos são estranhos é compreensível. Porém encará-los como algo profundamente bizarro e incompreensível na nossa sociedade, é fazer tábua rasa de milhares de anos de História. É arrogarmo-nos e esquecermo-nos da nossa condição humana. Não se leia nestas linhas alguma desilusão ou desencanto, antes pelo contrário é a constatação daquilo que é, foi e será a Humanidade. Que ainda terá, seguramente, muito para evoluir e melhorar. A nossa pós-modernidade não é um facto, mas um estado de espírito.
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