A possível candidatura às eleições presidenciais de Mário Soares motivaram uma série de tomadas de posição por parte de Pacheco Pereira – no Abrupto, num extraordinário artigo no Público, e na Quadratura do Círculo - que mais uma vez trazem a discussão para o seu local certo. De uma forma muito sintética considera Pacheco Pereira que a escolha que se vai fazer deve ser tomada com base em critérios de natureza política e não outros. Assim, convém relembrar e comentar os vários argumentos considerados.
Em primeiro lugar, Pacheco Pereira entende que a idade não é o argumento de crítica ao candidato Soares. Concordo que não pode ser o elemento central das críticas ao antigo Presidente da República, e que com grande probabilidade não será utilizado na campanha sob pena de se reverter contra quem o fizer. No entanto, será natural que na altura da escolha muitos eleitores considerem este elemento do Bilhete de Identidade do candidato. A natureza é o que é, e muita gente questiona se alguém com 80 anos ainda tem energia para ser Presidente da República e até se será possível com este candidato manter aquela prática já corrente de um Presidente-dois mandatos.
Por outro lado, Pacheco Pereira considera que a candidatura de Soares será má para a estabilidade política, com um Presidente que vai querer intervir em demasia tentando dirigir o “seu” PS, criando, deste forma, um intolerável clima de instabilidade. No fundo, relembra o segundo mandato soarista – iniciado com um amplo apoio político - e considera que Sócrates (que ao que parece já falou e definitivo sobre esta matéria) no fundo não quer em Belém o “seu” candidato. Sobre esta matéria sendo certo que a forma que Soares poderá utilizar na presidência é errática e descabida, convém discutir um pouco qual deve ser o papel a desempenhar, no nosso sistema político, pelo futuro Presidente da República. Parece evidente que depois de uma maioria absoluta interrompida e uma outra que se deixou enredar em trapalhadas impensáveis é importante que o próximo Presidente seja alguém com capacidade de intervenção. Não vou tão longe como Paulo Rangel que já avança a necessidade de se repensar o funcionamento do nosso semi-presidencialismo ponderando uma maior aproximação ao modelo francês. Mas já parece aceitável que o próximo Presidente não deva ficar calado perante uma mudança de Ministro das Finanças depois de quatro meses de mandato, que deve apontar os caminhos essenciais para o nosso País seja a nível económico, financeiro, mas também quanto à importante aposta na educação e formação, que fale se forma directa e sem rodeios, que intervenha mais na direcção da nosso política externa e de defesa (dentro das determinações constitucionais), e que - sem ser um salvador da pátria - auxilie os restantes órgãos de soberania a centrar a discussão política naquilo que verdadeiramente é importante. Isso Soares não é claramente capaz de fazer (aliás nunca o foi, pois a sua natureza é outra).
E é precisamente aqui, que Pacheco Pereira acerta. Soares com o passar dos anos transformou-se, de forma legítima é certo, num político radical. Se apresentar uma candidatura deixa o Bloco de Esquerda em dificuldades. Quem melhor que Soares personifica o radicalismo quanto à política externa ou económica? Ninguém. Quem melhor representa em Portugal os ideais da esquerda conservadora e crítica da globalização? Soares. Então o problema não parece estar num Presidente mais interveniente. Está em que possa fazê-lo de uma forma errada e que apenas representa sectores marginais da nossa sociedade. O Presidente até deve intervir, ajudar o Governo, exercer sobre este uma função de vigilância, mas não o pode fazer com base em objectivos de natureza meramente pessoal e de base partidária. O Presidente da república não pode ser o líder da oposição. Os exemplos que já tivemos devem quanto a esta matéria servir de aviso muito sério para que não se voltem a cometer os mesmo0 erros.
Por fim, Pacheco Pereira vem demonstrar que o tabuleiro não virou, que no centro-direita não há medo e que todos deveremos estar prontos para um embate político que por tudo pode ser bem favorável a este espaço político. Já estou com vontade que comece.
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