Imaginemo-nos em 1488, data em que foi impresso o primeiro
livro em Portugal em português. Tratava-se do “Sacramental” da autoria de
Clemente Sánchez de Verdial . Imaginemos que os copistas lusitanos que nessa
época reescreviam à mão os livros então disponíveis se organizavam para
contestarem a oferta ao público de livros impressos alegando que se trataria de
concorrência desleal e de uma prática perigosa por permitir uma divulgação
incontrolada de textos sabe-se lá escritos por quem. Imaginemos ainda que o rei
D. João II alinhava com os copistas e decidia proibir a venda de livros
impressos e ordenava mesmo a destruição das impressoras que existissem no
reino.
Felizmente não consta que nada disso tenha acontecido.
O frenesim que por aí vai contra o serviço de transporte
Uber parece-me uma indignação de copistas contra a letra impressa. Posso
compreender que os taxistas das nossas praças se incomodem com a novidade que
lhes perturba o remanso ou que os burocratas de pacotilha lamentem a eventual perda
de taxas, de alvarás e de licenças. Há dias esses mesmos falavam em criar uma
nova taxa de 20 euros a pagar pelos clientes dos táxis dos aeroportos. Se os
portuenses soubessem o que se passa e como se organiza o escalonamentos dos
táxis no aeroporto Sá Carneiro haveriam de corar de vergonha pois a coisa não é
muito diferente dos arranjos que vigoram no aeroporto de Luanda ou de outro
país do terceiro mundo. Mas o que parece extraordinário é que os poderes
públicos vigentes façam o que o D. João II não fez e alinhem nesta fantochada
de tapar o sol com uma peneira.
Sim, é verdade que não consta que um fornecedor da Uber
tenha espancado uma rapariga no centro do Porto ou enganado um turista
desembarcado em Campanhã ou em Pedras Rubras; sim, é verdade que um fornecedor
da Uber é classificado pelo utente após cada serviço; sim, é verdade que o
sistema Uber permite conhecer em tempo real o percurso do automóvel que foi
pedido e o tempo que vai demorar a chegar; sim, é verdade que o serviço Uber
não envolve troca de dinheiro vivo pois o pagamento é debitado directamente na
conta do titular do cartão de crédito; sim, é verdade que o serviço Uber tem
vantagens de preço e de custos ambientais muito interessantes. Enfim, tudo
inconvenientes gravíssimos e de alto risco!!!
Entretanto, bloqueiam à chinesa os sites da Uber, notificam
as operadoras telefónicas para cortarem as comunicações (operadoras que
sovieticamente se vergam à ordem) e até o Banco de Portugal estuda a maneira de
congelar os pagamentos. Estamos-nos a transformar num país de treta, essa é que é essa. Podem
vender a TAP, os comboios, a Efacec, os bancos, a PT, a Galp, a Cimpor, as
águas, o Metro e a STCP, os hospitais e as escolas, mas os táxistas hão-de ser
nossos!!! Olarilolé!
Pensando bem, devíamos
era acabar com os computadores e voltar à lousa e ao lápis de carvão. Isso é
que seria patriótico. E já agora, juntem-lhe um manjerico com uma quadra catita.
Ilumina-me S. João
ResponderEliminarE faz-me disto compreensivo
Diz-me que é pura ilusão
E que já se foi o estado corporativo
Força Douro, força Uber! É verdade, é.
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