Perguntavas-me
(ou talvez não
tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu
ouvia)
porquê a poesia,
e não outra coisa
qualquer:
a filosofia, o
futebol, alguma mulher?
Eu não sabia
Que a resposta
estava
numa certa
estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon
que Poe
(acho que era
Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e
tudo.
Porém se o
soubesse
de pouco me teria
então servido, ou
de nada.
Porque estavas
inclinada
de um modo tão
perfeito
sobre a mesa
e o meu coração
batia
tão
infundadamente no teu peito
sob a tua blusa
acesa
que tudo o que
soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de
que me lembro,
essa tarde
parada, por exemplo.
Manuel António Pina
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