sexta-feira, setembro 19, 2014

Eppur se muove

A Escócia votou « não » à independência.
Votou uma maioria e com ela o Obama, o Rajoy, a rainha, o Rasmussen, o Juncker, o Rebelo de Sousa, os CEOs, os banqueiros, a BBC, a SIC, o Barroso, o Rangel, o Assis e o David Bowie. Este “não” não tem nada, enquanto o “sim” prometia um futuro que apesar de negado conseguiu arrancar aos do “não” uma série de concessões de última hora que só foram possíveis porque aquele “aye”cresceu de maneira a assustar o Cameron.

Trata-se de uma vitória de Pirro pois quem mais perdeu foi quem julga ter ganho.
Perdeu a Europa de Bruxelas, pois embora pareça ter salvo as mobílias e o faqueiro, escaqueirou definitivamente, pela forma como se intrometeu no assunto, a loiça e a confiança de milhões de cidadãos, de dentro e de fora do Reino Unido, na bondade de uma construção institucional que, mantendo-se anquilosada e sitiada, usa a ameaça como argumento e tranca as janelas à realidade.

Perdeu o establishment de Westminster, a quem os galeses e irlandeses do norte vão exigir, e bem, as mesmas concessões prometidas a Edimburgo. Perdeu a monarquia, cuja rainha afinal se dispôs a fazer uma comunicação governamental cujo apelo à reflexão e ao bom senso escondia na verdade uma pressão inadmissível sobre o eleitorado do norte.
Perdeu, enfim, a concepção de que os Estados da segunda metade do século passado são estruturas inamovíveis e imutáveis por muito que isso pese às populações e aos povos.

É certo de que este ‘quem ganha perde’ traz um custo: o prolongamento de uma agonia, visto que este “não” é apenas um adiamento e nesse “nem o pai morre nem a gente come” crescerão as crispações à medida que se revelem melhor os becos para onde nos conduzem.

E, todavia, ainda quero acreditar numa Europa unida, uma Europa das Regiões, a Europa da subsidariedade, da proximidade e da solidariedade. Nada a ver com a União Europeia e os seus truques de engorda gansos, com que nos querem enfiar pela goela tratados que rejeitamos mas que servem para pôr nas torradas dos poderosos um fois gras feito de enganos e falsas promessas.

Sim, perdeu-se uma oportunidade e comprou-se uma crise de senilidade. Mas há sempre um vale por detrás do monte e , como dizia um outro, eppur se muove.


Viva a Escócia!

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