Apesar
de tudo, melhor ou pior, mais remendo menos remendo, o país lá acabou por ver desenhado
um regime dito democrático no papel. Um estado central, que garantiria
segurança, justiça, direitos de propriedade, educação e cuidados de saúde, mas com
o poder descentralizado.
Como
os políticos haviam sido formados no anterior regime ditatorial, não tinham experiência
democrática e o poder é coisa tentadora, logo as novas elites que dominavam os
partidos de tudo se apoderaram, concentrando em benefício próprio o poder que a
nova constituição dizia descentralizar e, como sempre, à custa da economia.
Mal
se sentaram nas cadeiras do novo parlamento de imediato trataram de definir
especiais ganhos, regalias e benesses para si mesmos. Para tudo manterem, como
o círculo eleitoral da capital não tinha espaço elegível para todos,
distribuíam-se por outros, assim desvirtuando a representatividade que o
democrático papelinho dizia garantir às populações locais.
Das
cadeiras parlamentares lá iam saltando para os cadeirões da governação Às elites
dos partidos mais pequenos eram ainda deixadas as cadeirinhas do chamado poder
local, mesmo assim em competição com as dos maiores. À medida que ocupavam
cadeirinhas, cadeiras e cadeirões iam enchendo os respectivos gabinetes e
serviços de familiares, amigos e correligionários de apoio, cuja factura também
era remetida à economia.
Após
os cadeirões da governação travestiam-se de empresários ou de banqueiros, com
lugar de assentado nas poltronas dos luxuosos gabinetes das empresas e bancos que
antes haviam confiscado à economia, algumas daquelas entretanto transformadas
em monopólios estatais.
Para
que a coisa desse para todos era-lhes ainda necessária uma frequente alternância
na governação, o que não se coadunava com mandatos de 4 anos como previsto no
democrático papel que antes haviam aprovado. Mal um deles era eleito, logo o
outro gritava que ele já não tinha suporte na vontade do pessoal, pouco antes expressa
em voto, clamando ao presidente por novas eleições, que de volta e meia lá lhas
ia dando, quando não optava por um governo de sua iniciativa que logo caía por
total ausência de apoio parlamentar, o que tudo gerava uma instabilidade que
nada facilitava o crescimento económico, antes o prejudicava ainda mais.
Estas
novas elites no poder, indiferentes a quaisquer interesses conflituantes,
passaram a dominar, em proveito próprio, não só as instituições políticas e
económicas, como ainda as próprias empresas confiscadas, agora ditas públicas,
intervindo assim forte e directamente na economia, distorcendo mercados e
limitando a concorrência. A promiscuidade era de tal modo abrangente que muitas
empresas da economia, para sobreviverem, tinham de se encostar aos favores do
poder, se necessário contratando os que delas neste abriam portas.
O
know-how dava assim lugar ao know-who!
As
ditaduras do Estado Novo e do PREC eram substituídas pela das novas elites
partidárias (a que Pacheco Pereira prefere apelidar prosaicamente de
partidocracia), que assim faziam jus à velha observação de K. Marx que a
história se repete. Primeiro por tragédia, depois por farsa!
A
economia mantinha-se dependente do que a política queria ou lhe permitia ser!
Estàs a escrever um livro, Chico. Não abrandes.
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