O
país dispunha de 3 grandes portas de entrada de divisas: exportações, turismo e
remessas de emigrantes. O que tudo já não chegava para as novas necessidades
que alguma abertura ao exterior tornavam demasiado apetitosas. No horizonte
europeu havia uma coisa chamada CEE que tinha fundos próprios e fama de ser
generosa na sua distribuição aos sócios. Urgia pois tentar abrir esta 4ª porta
por onde fartas divisas poderiam começar a entrar.
O
novo poder cedo lhe estendeu a mão, mas a CEE logo informou: Oh meus amigos, agradecemos
a preferência mas isto é um clube de sócios cujos estatutos têm regras. Uma
delas é que só aceitamos membros que tenham a democracia inscrita nos seus
estatutos internos e disponham de instituições políticas e económicas
democráticas. O que não vemos em vossa casa nem lemos nos vossos estatutos. Mas
claro que se isto alterarem teremos muito gosto em reavaliar a vossa ficha de
inscrição.
Uns
apressados remendos na constituição, expurgando-a dumas anacrónicas irreversibilidades
ideológicas, uns retoques nalgumas instituições, mais alguns truz truz no
guichet da CEE até que esta, lendo os revistos estatutos, lá acabou por nos
dizer: Bem vindos!
Fez-se
então festiva a abertura desta 4ª porta e as divisas começaram a jorrar aos
milhões. Mas tanto milhão era também demasiado tentador para a nova classe
politica, ou até para uma certa economia totalmente descapitalizada. Todos
queriam aproveitar-se deles e obter o mais possível para si, para usar no que o
pessoal por cá mais gosta: consumo e obras de fachada.
Cavaco,
à imagem e semelhança de D. Manuel I, cedo deu o mote, mandando erigir o CCB
mesmo ao lado dos Jerónimos, não já à custa das especiarias dum oriente perdido
mas das divisas desviadas dos novos fundos ditos estruturais. Na inauguração a
classe política aplaudiu o reviver daquela sensação de grandeza balofa do
passado. O sector da construção também.
Em
que mãos o dinheiro andava ou por que artes de magia lhes chegava não interessava.
Importante era que passasse a tal 4ª portinha e por cá fosse circulando. Até os
sindicatos, com ênfase para a descarada UGT, encontraram aqui uma mama que os
compensava largamente da perda de clientes que vinham registando. Para
satisfazer a CEE, que insistia que os seus fundos não se destinavam a consumo
mas sim a investimento, ainda se fizeram várias obras estruturais, que o país
tanto carecia, posto que algumas de utilidade ou eficiência duvidosas.
Mas
a adesão abria também à pobre economia uma oportunidade ímpar de crescimento,
pois que, de um dia para o outro, via um mercado de 10 milhões de pobres ser
transformado num mercado único de 300 milhões de ricos, sendo que para as
economias europeias o acréscimo de 10 milhões de pobres era coisa marginal.
Estranhamente, porém, sucedeu exactamente o inverso, tendo sido as economias
europeias quem aproveitou para crescer um pouquito mais, inclusivamente por
aquisição de empresas na nossa economia.
Com
tudo isto economia lá começou a medir crescimentos vários, posto que
principalmente pela ilusão do consumo, o que a classe política logo aproveitou
para distribuir benesses várias aos seus apoiantes, tanto no estado como nas
empresas confiscadas à economia e que agora dominava, na expectativa da sua
retribuição em votinhos. Ilusão que, em finais dos anos 90, pôs termo a
qualquer outro crescimento económico… até aos dias de hoje.
Ou
seja, economia continuava a ser que a política queria ou permitia ser!
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