segunda-feira, junho 09, 2014

Por que a economia não cresce? VI - A aventura europeia


O país dispunha de 3 grandes portas de entrada de divisas: exportações, turismo e remessas de emigrantes. O que tudo já não chegava para as novas necessidades que alguma abertura ao exterior tornavam demasiado apetitosas. No horizonte europeu havia uma coisa chamada CEE que tinha fundos próprios e fama de ser generosa na sua distribuição aos sócios. Urgia pois tentar abrir esta 4ª porta por onde fartas divisas poderiam começar a entrar.
 
O novo poder cedo lhe estendeu a mão, mas a CEE logo informou: Oh meus amigos, agradecemos a preferência mas isto é um clube de sócios cujos estatutos têm regras. Uma delas é que só aceitamos membros que tenham a democracia inscrita nos seus estatutos internos e disponham de instituições políticas e económicas democráticas. O que não vemos em vossa casa nem lemos nos vossos estatutos. Mas claro que se isto alterarem teremos muito gosto em reavaliar a vossa ficha de inscrição.
 
Uns apressados remendos na constituição, expurgando-a dumas anacrónicas irreversibilidades ideológicas, uns retoques nalgumas instituições, mais alguns truz truz no guichet da CEE até que esta, lendo os revistos estatutos, lá acabou por nos dizer: Bem vindos!
 
Fez-se então festiva a abertura desta 4ª porta e as divisas começaram a jorrar aos milhões. Mas tanto milhão era também demasiado tentador para a nova classe politica, ou até para uma certa economia totalmente descapitalizada. Todos queriam aproveitar-se deles e obter o mais possível para si, para usar no que o pessoal por cá mais gosta: consumo e obras de fachada.
 
Cavaco, à imagem e semelhança de D. Manuel I, cedo deu o mote, mandando erigir o CCB mesmo ao lado dos Jerónimos, não já à custa das especiarias dum oriente perdido mas das divisas desviadas dos novos fundos ditos estruturais. Na inauguração a classe política aplaudiu o reviver daquela sensação de grandeza balofa do passado. O sector da construção também.
 
Em que mãos o dinheiro andava ou por que artes de magia lhes chegava não interessava. Importante era que passasse a tal 4ª portinha e por cá fosse circulando. Até os sindicatos, com ênfase para a descarada UGT, encontraram aqui uma mama que os compensava largamente da perda de clientes que vinham registando. Para satisfazer a CEE, que insistia que os seus fundos não se destinavam a consumo mas sim a investimento, ainda se fizeram várias obras estruturais, que o país tanto carecia, posto que algumas de utilidade ou eficiência duvidosas.
 
Mas a adesão abria também à pobre economia uma oportunidade ímpar de crescimento, pois que, de um dia para o outro, via um mercado de 10 milhões de pobres ser transformado num mercado único de 300 milhões de ricos, sendo que para as economias europeias o acréscimo de 10 milhões de pobres era coisa marginal. Estranhamente, porém, sucedeu exactamente o inverso, tendo sido as economias europeias quem aproveitou para crescer um pouquito mais, inclusivamente por aquisição de empresas na nossa economia.
 
Com tudo isto economia lá começou a medir crescimentos vários, posto que principalmente pela ilusão do consumo, o que a classe política logo aproveitou para distribuir benesses várias aos seus apoiantes, tanto no estado como nas empresas confiscadas à economia e que agora dominava, na expectativa da sua retribuição em votinhos. Ilusão que, em finais dos anos 90, pôs termo a qualquer outro crescimento económico… até aos dias de hoje.
 
Ou seja, economia continuava a ser que a política queria ou permitia ser!

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