Em Janeiro de
2011 a editora francesa Grasset publicou um livro de Alexandre Jardin
intitulado “Des gens très bien”.
Nesse livro o
autor revelou o passado colaboracionista da sua família com o regime de Vichy e
meteu a nú a hipocrisia das ‘elites’ politico-financeiras francesas, Miterrand
incluido, que saltitaram alegremente das ‘raffles’ contra os judeus e negócios
obscuros com o ocupante nazi para a IV República onde continuariam a prosperar,
uma vez escondido o lixo sórdido debaixo dos tapetes Aubusson dos salões de
Matignon e do palácio do Eliseu.
Por alguma razão
lembrei-me desse livro ao ler o último Expresso na parte em que relata a turbulência
que atinge o grupo Espírito Santo, os respectivos bancos e holdings, os seus
negócios angolanos e os seus ramos familiares. Nem sei o que mais me espanta:
se o aspecto patético do sacudir de culpas para o contabilista (ou da D.Inércia?), se a dimensão
dos montantes ‘desaparecidos’, se a displicência dos responsáveis, se a
relativa desvalorização que as autoridades competentes parecem emprestar ao
caso. Dir-se-ia, afinal, que tudo não passaria de um infeliz erro técnico a que
se juntaria uma desatenção distraída.
Num país a sério,
aquela trupe já estaria toda detida para averiguações e impedida de comunicar
entre si. Mas nós vivemos num país em que o Governador do Banco de Portugal,
instituição que ajudou a prescrever uma coima de milhões, foi há dias dizer a
uma instância que ele não estava a par da totalidade das off-shores que o
Millennium BCP, de que era na altura Director, havia constituido por esse mundo
fora. Nós vivemos num país em que há sempre um Júdice ao lado de um Rendeiro,
um Proença a representar um Sócrates e um Cavaco a abraçar um Loureiro.
Que uma parte da
família Espírito Santo ache piada em ir de vez em quando brincar aos
pobrezinhos para os lados da Comporta é assunto que pouco me interessa, mas que
essa gente se besunte o cabelo de brilhantina enquanto se prepara, em conivência
com um governo de incompetentes e de corruptos, para nos passar a todos a
factura da sua alegada respeitabilidade, isso sim já me incomoda. Essa
impunidade e essa arrogância são um insulto e uma vergonha que nos mancha a
todos, não apenas pela injustiça que assim se revela mas sobretudo pelo amargo
travo de impotência que nos deixa.
Triste país este ‘des gens très bien’!
Aplauso!!! O despudor, neste país, dominado por uns sócrates e por outros tantos punhos de renda, já há muito que ultrapassou o limite do tolerável... e ninguém se indigna!
ResponderEliminarFrancisco, é assim mesmo!
ResponderEliminaras verdades à moda das nossas tripas tripeiras e portuenses....
Pode ser que comecem a entender, inclusive o Sr. Governador do banco de Portugal, que não pode ser acusado de ser pouco inteligente....Um abraço