terça-feira, maio 27, 2014

Por que a economia não cresce? II - Prevendo o passado


Desde que por aqui comecei a “postar”, ainda em pleno reinado socratino, que me insurgi contra o rumo de despesismo que os nossos políticos imprimiam ao país, alertando então para que a factura, como sempre a endossar à economia, não só iria ser bem pesada, como se iria subsumir, também como sempre, a duas alíneas: (+) impostos; (-) pensões.
 
Mas prever o futuro é fácil. Difícil é prever o passado!
Na realidade, o passado, em particular o mais recente, sempre sofre alterações diversas à medida que vai sendo contado ou que lhe vão sendo revelados novos dados.
De todo o modo arrisco sumarizar aqui algumas notas pessoais sobre um passado recente que, para serem pessoais, serão forçosamente pós 1950.
 
Nos anos 50 ainda a Europa Ocidental vivia o período de reconstrução pós-guerra, no que tivera ajuda do americano plano Marshal. Reconstruíam-se famílias e sociedades locais, reconstruíam-se instituições políticas e económicas democráticas, reconstruíam-se edifícios, estradas e estruturas diversas, construíam-se organizações internacionais para consolidar a paz, a segurança e o desenvolvimento económico.
 
Voltando a sentir que as instituições políticas lhes garantiam segurança, justiça e direitos de propriedade os europeus investiram. Voltando a sentir que também lhes protegiam as patentes, os europeus criaram e desenvolveram tecnologias. Tudo isto era acompanhado e suportado pela reconstrução e desenvolvimento de sistemas públicos de educação e de saúde. E a vida aconteceu!
 
A Europa Ocidental conheceu assim um crescimento económico sem paralelo, que só abrandou com o choque petrolífero de 1973. Como as suas instituições políticas e económicas democráticas foram consolidadas e criavam mecanismos de defesa contra abusos de poder, que uma imprensa livre também dificultava, a vida continuou a acontecer. Os países que exploravam sistemas coloniais aceitaram ainda a sua descolonização. Nos EUA e Canadá vivia-se igual crescimento. Noutras paragens, onde sistemas políticos democráticos criaram iguais condições, idem, como foi o caso do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul ou da Austrália, o que tudo fez também crescer o comércio internacional. O sistema criou ainda instituições económicas para combater os abusos da concentração de riqueza, de modo a garantir iguais oportunidades para todos.
Até a URSS conheceu então um forte crescimento económico, posto que não pelo incentivo político democrático, mas sim pelo da kalashnicov. Claro que, quando a pousaram, a economia deixou de crescer.
 
De fora ficaram a Espanha e Portugal. Por cá vivia-se então em pleno reinado salazarento que, apoiado por algumas poderosa elites que alimentava bem, mantinha os portugueses isolados deste crescimento. O acesso à indústria era condicionado às elites que o suportavam, tendo como grande base a exploração de matérias-primas das colónias e a exploração de mão-de-obra mantida barata e desinstruída. A tecnologia era contida à distância, como se de um inimigo se tratasse, uma grande parte dos portugueses vivia duma agricultura arcaica e ineficiente, o nível de educação e dos cuidados de saúde eram parcos, as novidades e as opiniões eram fortemente censuradas.
Tanto portugueses como africanos contra tudo isto se revoltavam, o que sempre era silenciado por uma poderosa polícia política e umas submissas forças armadas. Nos anos sessenta, quando a revolta dos africanos começou a ser também armada, os jovens foram forçados a integrar aquelas forças armadas por longos períodos para ajudar a conter a revolta, o que gerou um estado de guerra que durou por 13 anos e que também tinha de ser alimentado por uma economia que, de pobre, passou a ser de mera subsistência, mas que continuava a não interessar ao regime deixar abrir ao mundo.
Como a economia não conseguia alimentar a população, esta recorreu à emigração. Muitos tentaram a sua sorte em África, outros nas Américas. Mas é nos anos 60 que se dá a emigração massiva para a Europa em crescimento, em particular para França e para a Alemanha, o que foi então apoiado pelo poder que nas remessas dos emigrantes encontrava a tábua de salvação para as divisas que o esforço de guerra lhe exigia.
A guerra colonial fez ainda com que o auto isolamento do progresso económico, que a política de então impunha aos portugueses, fosse adicionado de um isolamento político que a comunidade internacional impôs ao país.
 
Este “orgulhosamente sós” durou até à, finalmente bem sucedida, revolta do vinte-e-cinco-barra-quatro.
 
Neste período a economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!

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