Desde
que por aqui comecei a “postar”, ainda em pleno reinado socratino, que me
insurgi contra o rumo de despesismo que os nossos políticos imprimiam ao país, alertando
então para que a factura, como sempre a endossar à economia, não só iria ser bem
pesada, como se iria subsumir, também como sempre, a duas alíneas: (+)
impostos; (-) pensões.
Mas
prever o futuro é fácil. Difícil é prever o passado!
Na
realidade, o passado, em particular o mais recente, sempre sofre alterações
diversas à medida que vai sendo contado ou que lhe vão sendo revelados novos
dados.
De
todo o modo arrisco sumarizar aqui algumas notas pessoais sobre um passado
recente que, para serem pessoais, serão forçosamente pós 1950.
Nos
anos 50 ainda a Europa Ocidental vivia o período de reconstrução pós-guerra, no
que tivera ajuda do americano plano Marshal. Reconstruíam-se famílias e
sociedades locais, reconstruíam-se instituições políticas e económicas
democráticas, reconstruíam-se edifícios, estradas e estruturas diversas, construíam-se
organizações internacionais para consolidar a paz, a segurança e o
desenvolvimento económico.
Voltando
a sentir que as instituições políticas lhes garantiam segurança, justiça e
direitos de propriedade os europeus investiram. Voltando a sentir que também
lhes protegiam as patentes, os europeus criaram e desenvolveram tecnologias. Tudo
isto era acompanhado e suportado pela reconstrução e desenvolvimento de
sistemas públicos de educação e de saúde. E a vida aconteceu!
A
Europa Ocidental conheceu assim um crescimento económico sem paralelo, que só
abrandou com o choque petrolífero de 1973. Como as suas instituições políticas
e económicas democráticas foram consolidadas e criavam mecanismos de defesa
contra abusos de poder, que uma imprensa livre também dificultava, a vida
continuou a acontecer. Os países que exploravam sistemas coloniais aceitaram ainda
a sua descolonização. Nos EUA e Canadá vivia-se igual crescimento. Noutras
paragens, onde sistemas políticos democráticos criaram iguais condições, idem,
como foi o caso do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul ou da Austrália, o que
tudo fez também crescer o comércio internacional. O sistema criou ainda
instituições económicas para combater os abusos da concentração de riqueza, de
modo a garantir iguais oportunidades para todos.
Até
a URSS conheceu então um forte crescimento económico, posto que não pelo
incentivo político democrático, mas sim pelo da kalashnicov. Claro que, quando
a pousaram, a economia deixou de crescer.
De
fora ficaram a Espanha e Portugal. Por cá vivia-se então em pleno reinado
salazarento que, apoiado por algumas poderosa elites que alimentava bem, mantinha
os portugueses isolados deste crescimento. O acesso à indústria era
condicionado às elites que o suportavam, tendo como grande base a exploração de
matérias-primas das colónias e a exploração de mão-de-obra mantida barata e
desinstruída. A tecnologia era contida à distância, como se de um inimigo se
tratasse, uma grande parte dos portugueses vivia duma agricultura arcaica e
ineficiente, o nível de educação e dos cuidados de saúde eram parcos, as
novidades e as opiniões eram fortemente censuradas.
Tanto
portugueses como africanos contra tudo isto se revoltavam, o que sempre era
silenciado por uma poderosa polícia política e umas submissas forças armadas.
Nos anos sessenta, quando a revolta dos africanos começou a ser também armada,
os jovens foram forçados a integrar aquelas forças armadas por longos períodos para
ajudar a conter a revolta, o que gerou um estado de guerra que durou por 13
anos e que também tinha de ser alimentado por uma economia que, de pobre,
passou a ser de mera subsistência, mas que continuava a não interessar ao
regime deixar abrir ao mundo.
Como
a economia não conseguia alimentar a população, esta recorreu à emigração.
Muitos tentaram a sua sorte em África, outros nas Américas. Mas é nos anos 60
que se dá a emigração massiva para a Europa em crescimento, em particular para
França e para a Alemanha, o que foi então apoiado pelo poder que nas remessas
dos emigrantes encontrava a tábua de salvação para as divisas que o esforço de
guerra lhe exigia.
A
guerra colonial fez ainda com que o auto isolamento do progresso económico, que
a política de então impunha aos portugueses, fosse adicionado de um isolamento
político que a comunidade internacional impôs ao país.
Este
“orgulhosamente sós” durou até à, finalmente bem sucedida, revolta do
vinte-e-cinco-barra-quatro.
Neste
período a economia foi apenas o que a política quis ou permitiu ser!
Deduzo que isto é para continuar. Tou a apreciar. Abraço
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