quarta-feira, novembro 20, 2013

Não percam o Norte


Há um pólo que não tem norte apesar de estar lá o norte. O outro não tem sul, é o sul.

Nós estamos num norte, mas como é o nosso é o Norte. É Norte porque tem sul. Se não tivesse sul não era nem norte nem Norte.

Ambos fazem um país, sul e norte. Fazem-no porque falamos todos a mesma língua, conhecemos as mesmas anedotas, vibramos com os mesmos sucessos, protestamos contra o mesmo governo, partilhamos o mesmo mar e os mesmos antepassados, fizemos a mesma história, emigrámos do mesmo sítio e temos saudades dos mesmos cheiros e bebemos o mesmo vinho.

Sinto-me tão vizinho do pescador de Olhão como do farmacêutico de Vouzela ou do barbeiro do Foco onde aparo o cabelo. Ser vizinho não quer dizer ser amigo. Às vezes, é mesmo o contrário, sobretudo dos que estão mais perto, quando me perturbam o sono ou me complicam a vida. Mas é com os vizinhos que somos uma comunidade. E preciso deles, mesmo que eles pensem que não precisam de mim para nada.

Se o Norte precisa do sul, é igualmente verdade que os de lá de baixo precisam da gente, da terra e das capacidades do Norte. Alguns desses nossos vizinhos ainda não perceberam isso, mas o mal é deles, coitados, impampes na sua ignorância saloia e umbiguistas de vistas curtas. Mas uma coisa é tolerar-se a estupidez alheia, outra é deixar-se espezinhar, senão mesmo servir de mula para levar os ditos às costas a visitar as hortas. Isso não!

Vem tudo isto a propósito da forma como as próximas verbas dos fundos estruturais europeus irão ser geridas e aplicadas no país nos próximos anos. Se o governo da Répública, sediado em Lisboa, pensa que pode repetir os “spill-overs” e outros truques para contornar a coesão nacional e ludibriar o Norte, engana-se. Nós não estamos apenas a norte; nós somos o Norte. Tenham tino! ( se é que ainda querem ser o sul de alguma coisa).

4 comentários:

  1. Inaceitável Francisco! Inaceitável esta consideração que é expressa sobre "…os de lá de baixo…" apelidando-os de saloios ignorantes, coitados, umbiguistas de vistas curtas, estúpidos, malandros, etc. por oposição aos do Norte.
    Não comungo destas ideias nem desta forma de tratar os "vizinhos". Nem sequer acho que seja a forma de na realidade relançar um debate sobre a reorganização do país – eventualmente através de um processo de regionalização – que seja a solução mais indicada para o futuro.
    Também não concordo com a leitura que é feita neste escrito sobre o destino a dar aos fundos comunitários por esse "famigerado" "…governo da República, sediado em Lisboa."
    O país tem uma identidade e acho absolutamente inaceitável e repugnante destruir esta identidade, doa a quem doer! O Norte não é nem pode ser transformado num oposto do Sul e muito menos num inimigo dos cidadãos portugueses do resto do país.
    Porque o que se depreende da opinião expressa neste escrito é que para além do Norte tudo o resto são "…os de lá de baixo…".
    Francamente, Francisco, o debate é interessante, importante, indispensável, incontornável! Mas num clima de serenidade, de civilidade, de abertura de espírito e não do contrário de tudo isto.
    J. Silva Rodrigues

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    1. Tu leste que artigo, Joaquim? Não foi concerteza o meu, e não vale a pena falares em "famigerado" pois nem isso là està. Se o leste , então é porque deves ter feito um curso de leitura ràpida dado por curiosos. Nem sequer falo em "malandros", mas falo nos responsàveis polìticos que discriminam o resto do paìs. Aliàs o post defende exactamente a coesão nacional e sublinho que não hà norte sem sul , como não pode haver sul sem norte. Acho que te precipitaste, mas não é grave Joaquim pois acredito que a esmagadora maioria dos leitores perceberam o que eu quiz dizer.

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  2. Carlos Duarte9:24 da tarde

    Caro Douro,

    Sempre achei estranho o bairrismo nortenho (ou portuense). Percebo em absoluto (e comungo) de alguma "oposição" a Lisboa e arredores, mas como diz, é preciso ter consciência que o que devemos não é reclamar mais apoios ou verbas ou o que seja para o norte, mas antes para todo o resto do país que não cabe a 30 km do Terreiro do Paço. Mais, mesmo olhando para o Norte (admitamos acima do Vouga ou do Mondego) com que direito nós do Porto arrogamos verbas e investimentos quando, comparados com Bragança, somos uns privilegiados?

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    1. Caro Carlos Duarte, tento responder lhe parcialmente no post "E o Interior". Saudações cordiais.

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