Há um pólo que não tem norte apesar de estar lá
o norte. O outro não tem sul, é o sul.
Nós estamos num norte, mas como é o nosso é o
Norte. É Norte porque tem sul. Se não tivesse sul não era nem norte nem Norte.
Ambos fazem um país, sul e norte. Fazem-no
porque falamos todos a mesma língua, conhecemos as mesmas anedotas, vibramos
com os mesmos sucessos, protestamos contra o mesmo governo, partilhamos o mesmo
mar e os mesmos antepassados, fizemos a mesma história, emigrámos do mesmo sítio
e temos saudades dos mesmos cheiros e bebemos o mesmo vinho.
Sinto-me tão vizinho do pescador de Olhão como
do farmacêutico de Vouzela ou do barbeiro do Foco onde aparo o cabelo. Ser
vizinho não quer dizer ser amigo. Às vezes, é mesmo o contrário, sobretudo dos
que estão mais perto, quando me perturbam o sono ou me complicam a vida. Mas é
com os vizinhos que somos uma comunidade. E preciso deles, mesmo que eles pensem
que não precisam de mim para nada.
Se o Norte precisa do sul, é igualmente
verdade que os de lá de baixo precisam da gente, da terra e das capacidades do
Norte. Alguns desses nossos vizinhos ainda não perceberam isso, mas o mal é
deles, coitados, impampes na sua ignorância saloia e umbiguistas de vistas
curtas. Mas uma coisa é tolerar-se a estupidez alheia, outra é deixar-se
espezinhar, senão mesmo servir de mula para levar os ditos às costas a visitar
as hortas. Isso não!
Vem tudo isto a propósito da forma como as próximas
verbas dos fundos estruturais europeus irão ser geridas e aplicadas no país nos
próximos anos. Se o governo da Répública, sediado em Lisboa, pensa que pode
repetir os “spill-overs” e outros truques para contornar a coesão nacional e
ludibriar o Norte, engana-se. Nós não estamos apenas a norte; nós somos o
Norte. Tenham tino! ( se é que ainda querem ser o sul de alguma coisa).
