sexta-feira, novembro 22, 2013

"...e o Interior?"


Quando se fala em Norte, há quem reaja perguntando “...e o interior?”, pensando que assim neutraliza os defensores da Regionalização ao confrontá-los com uma situação de gritante desequilíbrio da coesão nacional.  A verdade, porém, é que não conheço nenhuma proposta concreta no plano da organização político-administrativa do Estado que se apresente como resposta cabal a essa evidência da desertificação, abandono e crescente empobrecimento do interior do país.

Um dos nossos problemas mais sérios vai para além de um mero centralismo, ou seja, de um sistema em que as decisões políticas são única e exclusivamente tomadas por um poder central, que concentra numa capital todas as competências e instrumentos do seu exercício.  O centralismo vigente é mais do que isso: é não só um centralismo político mas também um centralismo económico, social e cultural, com a agravante acrescida de, pela sua dinâmica, afunilar para essa capital o grosso dos recursos nacionais, materiais e humanos. Em Portugal há de facto duas regiões: a região da capital e a região do resto do país.

Essa matriz tende, aliás, a reforçar-se em consequência do calculismo partidário decorrente do facto de a concentração crescente de um eleitorado cada vez mais numeroso e influente na região de Lisboa incentivar a conquista desse voto pela adopção de medidas e a tomada de decisões que respondam aos desejos desse mercado político.

Por outras palavras, o centralismo não é apenas um sistema. O centralismo é também uma dinâmica, um movimento ou, se se quiser, uma energia que suga por necessidade e não necessariamente por uma má-vontade ou “maldade” qualquer. Para dizer curto, é igualmente uma centralização de interesses. Foi e é essa mesma energia que deslaçou o interior do país do seu litoral através da replicação desse mesmo modelo pelo país fora, como se constata se verificarmos, por exemplo, a tentação da capitalização do Porto como centro do Norte, ou a de Coimbra como centro do Centro, ou a de Faro como centro do Algarve. Estes desvios, que servem aliás para encher a boca dos que alertam para o risco da Regionalização reproduzir afinal o modelo, não são filhos de uma Regionalização que não existe, mas são sim os avatares, os miasmas do centralismo que vigora. Mas como é a cabeça que cresce sempre, até esses sub-centralismos irão ou iriam acabar, a manter-se o status quo, por ser desvitalizados pelo verdadeiro e poderoso centro central.

Se assim considerarmos que aquela energia perversa centralizante é afinal uma espécie de droga que mata aos poucos a nação, então talvez compreendamos melhor que a terapia adequada é substituir o próprio modelo e reorganizar de outra forma o exercício do poder político e o Estado. O combate aos desequilibrios entre o litoral e o interior passa por aí. O Norte só o será se ligar economica, social e culturalmente o território de Miranda do Corvo a Caminha e o de Melgaço a Cinfães. Ora, para tanto é preciso um outro tipo de poder, um outro tipo de filosofia, um outro músculo nesse território, um outro Estado. E provavelmente uma outra Constituição: que organize o país em Regiões políticas e que consagre critérios quantificados de desenvolvimento e de transferências intra e inter-regiões.

O que está não presta!
Seria bom que os que dizem defender o interior reflictam nisso.

 

 

 

2 comentários:

  1. Tomei a liberdade de publicar este V/ 'post', com o respetivo 'link' no blog Regionalização.

    http://www.regioes.blogspot.pt/2013/11/e-o-interior.html

    Cumprimentos,

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    1. Pois com certeza, caro Antònio.
      As mais cordiais saudações.

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