Quando falei nas atrocidades cometidas pelos
mouriscos de Franco em Badajoz, o Bernardo afirmou que ambos os lados da guerra
civil espanhola haviam cometido atrocidades. É factualmente verdade, mas para uma
tal afirmação ser consistente tem que passar por um exame à lupa. Ora o
resultado de um tal exame é demolidor para o lado franquista. Para tal exercício,
vale a pena conhecer o recente livro de Paul Preston “The Spanish Holocaust”.
Não se trata apenas de uma questão estatística
( 200 mil assassinados pelos franquistas contra 50 mil pelos republicanos), nem
de uma comparação dos horrores e sadismos de um lado e do outro (em que era difícil
superar a brutalidade da soldadesca treinada nos massacres dos aldeões
marroquinos). Trata-se essencialmente de uma questão política, pois está hoje
suficientemente documentado que a actuação das forças rebeldes foi desde o início
marcada por uma opção táctica de espalhar o terror e assim paralizar os adversários
e de uma deliberada estratégia de “purificar” a nação dos vírus demoníacos do
socialismo e do ateísmo.
Não vale a pena comparar os massacres de
Paracuellos com as matanças de Badajoz, ou os paseos dos prisioneiros na Madrid
republicana com os bombardeios das colunas de civis em fuga. Entrar nessa
contabilidade seria tão sinistro como a estupidez dos actos em causa. Mas
importa distinguir a paixão ou a loucura de uma outra coisa que é a reflectida
e planeada execução de milhares de não-combatentes, e isso inclusivé quando a
guerra já terminara.
“Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra
coisa”-Vale?
Certamente que vale!
ResponderEliminarVale e continua a valer. Uma coisa são corridas de toiros, que era o nosso tema, outra a questão de saber quem era o pior na Guerra Civil de Espanha.
ResponderEliminarO Douro quer trazer-me para o meio da arena mas esta questão de contabilidade política muito em voga agora em Espanha não é minha. A história dos vencedores da guerra era uma e a história dos vencedores políticos (de hoje)outra e ambas carecem de muitas afinações. A história não é estatística.
Uma nota final para ilustrar o romantismo e a parcialidade com que estas coisas se encaram: uns são para o Douro apaixonados e loucos enquanto que os outros são arquitectos premeditados do terror e da barbárie. Achas isto mesmo assim, a preto e branco?
BLX
Caro Bernardo
ResponderEliminarNão me parece que esteja a ver as coisas a preto e branco quando denuncio a premeditação de um crime. Por muita nuance que tentemos pôr nas cores, chega-se a um ponto que ou se toma posição ou não se toma. Eu tomo, ou faço por isso, mesmo se me engano. Por outro lado, penso que a relativização ou o relativismo (como queira) nestas matérias não é bom conselheiro.
Mas aceito que este debate sobre a guerra de Espanha não lhe interesse, embora partilhe as suas reservas sobre a abordagem contabilistica do assunto, pois, como dizia no post, o lado republicano, apesar de todos os seus crimes, nunca igualou o cinismo e a postura himmleriana dos autores do holocausto franquista. Nòs, portugueses, não nos podemos pôr de lado nesse debate pois alguma participação tivémos no que ali se passava, e se houve vàrios casos de postura decente, protegendo familias fugitivas, devemos envergonhar-nos das camionetas de refugiados que devolvemos a Franco para là serem fuzilados bem como as excurções de certos instalados a assistirem ao espectáculo das execuções.
Um abraço
Caro Douro
ResponderEliminarConheço muito bem a panóplia das provocações polemistas e, por isso, vou resistir e manter-me de fora apesar dos teus ferros curtos.
O assunto interessa-me muito. O debate nos termos em que o queres colocar não me interessa tanto. É só isso. Não me interessa discutir história (de que gosto imenso) a partir de uma visão redutora de bons e maus e ao sabor das modas dos tempos. Isto não tem nada de relativismo. Eu gosto de história e gosto de política. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Temos é de ir comer um bife de lombo.
Um forte abraço
BLX
Com essa do bife de lombo arrumaste-me. Lembra-me aquela parte final dos Maias em que o Carlos, depois de uma tirada sobre o sentido da vida, corre a apanhar o eléctrico. Bora a esse bife.
ResponderEliminarAcredita que não me pretendo alhear-me do que é importante, embora ache que um bom bife de lombo tem a sua dignidade até porque é uma coisa rara. Para confirmar que estou a falar a sério pergunto: emprestas-me o livro ou dizes-me de onde o posso mandar vir?
ResponderEliminarBLX
Olha que o livro é um tijolo, denso e muito triste. Enquanto o lia não dormia muito bem. Mas levo-to quando atacarmos o lombo, concerteza.
EliminarDeve ser um livro do lombo...
ResponderEliminarUm abraço a cada um
JAC
Meus caros, estes assuntos interessam-me muito ( a guerra civil e o bife do lombo).
ResponderEliminarSabendo da qualidade intelectual do Douro, diria que ele só está a provocar o pessoal.
A guerra civil espanhola tem que ser vista como um todo e não só quando Franco aterrou na península. Por isso convém não esquecer que qualquer livro minimamente imparcial diria que um dos factores que iniciou este holocausto foi a perseguição aos católicos. O presidente da república de então disse que queria todas as igrejas queimadas, o resultado disso foi a morte de cerca de 7000 Padres e 12 Bispos. Se isto não é uma opção táctica, então não sei.
Abraços.
Oh José, e então as freiras? Não esquecer as freiras. Mas que não se fale do caso da canonização do jesuíta Fernando Huidobro: é que este capelão dos legionários franquistas, que não paráva de enviar cartas a todas as chefias militares a exigir que se acabassem com as torturas e execuções sumárias, teve o processo de canonização suspenso no tempo de Paulo VI quando se descobriu que morrera não por causa de uma granada russa mas com um tiro nas costas.
EliminarA mim também me interessam, mas se não for convidado para o bife...
ResponderEliminarabraços,
FRF
Chico, há-de haver bife em quantidade, pois a época taurina está a começar. Bem passado ou rosé?
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