Em 2007, HuangWei
decidiu deixar pais, amigos e uma vida de agricultores pobres numa aldeia pobre
do Sichuan, e partir para Shanghai. Na bagagem: uma camisa, um par de calças e
a vontade de conseguir uma vida melhor. Para si e para os pais. Hoje, em 2012, HuangWei,
já casado, vive com a mulher e os pais num apartamento burguês que aluga por 2000
euros, conduz Land-Rover com set de golf no porta-bagagens e confessa à mulher,
uma jovem chinesa inteligente e interessada pela filosofia budista, que o seu
ojectivo é ter em mão 52 milhões de rmb…Com a América ou Austrália no
horizonte. Para ele e
toda a família.
Num fim de dia quente, em pleno deserto do Gobi, subimos juntos a encosta que nos leva às ruínas de Yangguan, não longe de Dunhuang. Falámos da China e do Partido e pergunto-lhe porque razão a queda de Bo Xilai foi um alívio para ele e seus amigos upstarters da nova classe média. "Wéngé!(Revolução cultural )» diz-me, em chinês, e explica: « O risco de uma nova revolução cultural!».
Convencida de que a geração a que pertence pouco ou nada sabe sobre a revolução cultural de Mao, um tema tabú nas escolas e conversas, a resposta surpreende-me. E insisto: que sabe ele dessa fase da história chinesa? No final desta tarde quente, rodeados pelo deserto, HuangWei pára de se fotografar e de enviar comentários e fotos via « weibo »(twitter chinês), olha-me triste e responde em tom emotivo: « Muito. Os meus pais foram vítimas da loucura que foi a Revolução Cultural. O meu pai tinha um irmão rico. Toda a família foi expropriada, atacada, posta na prisão. E ainda hoje sofrem».
Mais tarde, já ao pôr-do-sol, HuangWei fala-me do seu presente. Gere, numa firma de publicidade, um orçamento de 215 milhões de rmb e este ano receberá 2 milhões de rmb de comissão. O objectivo dos 50 milhões é plausível. Mas na China nada é certo. Por isso, América e Austrália são alternativas também plausíveis.
E à medida que descemos a colina, das ruínas até ao taxi que nos levará de regresso a Dunhuang, Huang Wei, que ao subir me ensinara a dizer em chinês « Revolução Cultural » (Wéngé), insiste em me ensinar como dizer em chinês “Consegui fazer grandes lucros!” ( Chénggõng yöu gèng duö de lìrùn).
Maria
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