sexta-feira, fevereiro 10, 2012

O Sr. Schulz e a auto indulgência

Anda aí a república afrontada com os ditos do Sr. Schulz. Aliás, a indignação fez o pleno da tribo, da esquerda à direita, não há quem não se tenha apoquentado com o remate frio e germânico do presidente do Parlamento Europeu. O país – qual marialva – não engole recados nem remoques de fora…haja respeitinho, que é muito bonito…
Ora bem, ouvidas, lidas - para não restarem dúvidas – e contextualizadas, as afirmações (aqui) não podem recolher senão o mais vivo assentimento. Desde logo, o senhor não citava Portugal por Portugal, mas como exemplo do que se poderá passar na Europa caso não se assuma o projecto Europeu de corpo inteiro. Mais, fez mea culpa ao referir-se aos interesses sino-europeus, designadamente alemães, reputando a sociedade chinesa de esclavagista. Schulz não lançou nenhum toucinho para servir a Maomé, limitou-se a constatar, de forma aberta e deslumbrada, que os passos desta Europa não são firmes e que não levarão, porventura, a bons resultados. Quem semeia ventos…
É evidente que a entrada de capital de países emergentes, de verdadeiras cleptocracias, numa Europa empobrecida e acossada pela crise, com lideranças tíbias, coarctadas por tacticismos político-partidários internos, vai ter o seu preço. E a verdadeira factura não são exportações ou importações de conhecimento ou de oportunidades de negócio ou de cérebros, o preço é, mesmo, o risco. O risco de prescindirmos de ser uma sociedade transparente, mais do que solidária e equitativa; o risco - não calculado – de nos vermos acometidos por interesses difusos e nunca escrutinados; o risco de poder falar, dizer e pensar; o risco de ter medo de arriscar, de agir; o risco poderá, mesmo, ser o da nossa Liberdade.
Ora, numa sociedade sã, desassombrada, as opiniões deveriam ser ouvidas, de corpo inteiro e sem reservas. Porque às vezes podem ser úteis. E a do Sr. Schulz é mais do que útil, é um aviso, é uma inquietude a que, infelizmente, se fazem ouvidos de mercador porque é bem melhor fazer como a avestruz.
Somos realmente um país que se auto desculpabiliza – aqui não se mata o touro, serram-lhe os cornos – que se auto afaga, aninhado na auto comiseração das suas lágrimas. As verdades de Schulz só poderão provocar escândalo a quem tenha pena de si próprio e do seu estado. Enfim… e parafraseando a frase apócrifa do nosso primeiro ministro…somos mesmo uns piegas.

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