quarta-feira, novembro 16, 2011

Desnecessidades

O Ministro dos Negócios Estrangeiros anuncia o fecho de 7 embaixadas.
Confesso que não percebo os critérios mas, conhecendo do que a casa gasta, imagino que a coisa é feita em função de quem está ali ou acolá e de maneira nenhuma em consonância com uma estratégia de política externa, coisa que não há nem ninguém sabe o que é.

Se se fecham as embaixadas nos países bálticos, parceiros da União Europeia, porque não se encerram também, já agora, a de Chipre, a da Eslovénia e a da Bulgária. Fechar aquelas nas vésperas do regresso do bullying putinesco aos bálticos é uma inqualificável cobardia política.

Mas se a orientação é a alegada diplomacia económica, alguém me pode explicar o que é que rendem em negócios as embaixadas na Croácia, na Etiópia, no Irão, na Namíbia, no Vaticano, em Singapura e no Paquistão? Se o novo perfil de embaixador é simplesmente a de promover sapatos e tremoços, porque é que não se encerram imediatamente os 52 escritórios externos da AICEP?

Bem sei que o Qatar se propõe salvar o BCP, comprar a companhia de aviação EuroAtlantic, talvez ainda um dos grandes clubes de futebol, e mais não sei quantos outros saldos, mas é isso razão suficiente para lá pôr um embaixador residente? Já não há voos entre Riad e Doha? Pela mesma ordem de razões, podiam nomear um embaixador ad personam junto do Sr. Abramovich, que também tem dinheiro a rodos para nos comprar as Berlengas e nos importar palitos. Com sorte e algum empenho do Sr. Embaixador, talvez a Madeira lhe despachasse as Formigas e assim endireitasse as contas regionais.

Tantos meses a reflectirem e a estudarem para afinal virem com um anúncio pífio de que desligam uns míseros 7 contadores de luz, quando deviam ser pelo menos uns 17. Pelo menos, pois assim como quem nem quer a coisa eu até era menino para fechar as Necessidades todas: para a “política” que fazem, não há necessidade.



1 comentário:

  1. Meu Caro,
    Fechar as Necessidades não o faria, até por que continuo a acreditar na diplomacia. Penso mesmo que as Necessidades ainda possuem uma grande experiência e conhecimentos nestas matérias (coisas que desenvolveram no tempo do império) e que será de perservar.

    No entretanto o mundo continua a evoluir e nem sempre as Necessidades a ele se vão adaptando. Será o caso da agora badalada "diplomacia económica". Ao invés de se adaptarem as embaixadas criaram-se estruturas paralelas, como sucedeu com o IIE/ICEP/AICEP, assim se duplicando enormes e inúteis custos fixos, aparentemente sem eficácia ou efectivo retorno e, sobretudo, rivais entre si.

    Com os actuais apertos orçamentais, a coisa lá vai começando a ser mexida, na busca de sinergias. Mas logo, à boa maneira cá do sítio. o processo começa pelas habituias discussões e rivalidades. "Diplomacia económica" tem apenas duas palavras, ou seja, as suficientes para uma boa discussão. Como a palavra "diplomacia" está lá, logo o Sr. Paulo Portas grita: é minha. Olhando para a outra palavra, de pronto o Sr. Álvaro S. Pereira a clama para si. Posto o problema ao papá este resolve que, se os meninos não sabem brincar juntos, fica comigo. Como este não conhece nenhumas das palavras, pede parecer.

    Mas uma das grandes evoluções a que o mundo tem asssistido é seguramente a do processo europeu, que a dado momento deu mais um passo para a actual União Europeia. Não obstante, uma vez mais a estrura diplomática se manteve entretida com os burocráticos pasaportes e bilhetes de identidade, tendo até sido acrescentada com uma nova, a chamada REPER, assim se somando mais uma às duas jà existentes em Bruxelas (uma junto do Rei, outra da NATO).

    Em vez de se fecharem alguns consulados, tipo tiro ao alvo, o que só complica a vida burocrática dos Portugueses que por essa Europa fora (cada vez mais) vivem (ou são forçados a viver), creio que faria antes sentido encerrar, pura e smplesmente, todas as embaixados que ainda mantemos junto dos demais 26 países nossos parceiros na União.

    Na verdade, numa União que se pretende sem fronteiras e em livre circulação, numa União em que chefes de governo e ministros se sentam frequentemente à mesma mesa, nomeadamente os respectivos ministros dos negócios estrangeiros, e em que, no dia a dia, todos comunicam entre si por sipmples telefonema, correio electrónico ou vídeo conferência, que papel fica para o embaixador (para além de cunhas para acesso à universidade)? E aqui falamos de algumas das mais imponentes, e caras, embaixadas (Madrid, Roma, Paris, Londres, Berlim, etc.), logo de importantes economias para os nossos depauperados bolsinhos.

    Mais, numa União que até já tem (uma espécie de) ministro dos negócios estrangeiros, e algumas embaixadas próprias, que sentido faz que os seus 27 membros continuem a ter representações diplomáticas autónomas e paralelas, em vez de passarem todos a ser representados por uma única embaixada da UE por esse mundo fora?

    Claro que se fizermos estas perguntas a um diplomata, por certo ele irá dizer que vida iria deixar de funcionar. Mas estou certo que o mundo não deixaria de girar e que os contribuites europeus só teriam a agradecer. E a economia também!
    FRF

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