segunda-feira, outubro 17, 2011

Vouguinha


A linha ferroviária do Vouga vai encerrar porque, segundo o nosso Governo, não é rentável. Fiz o troço Aveiro-Águeda este fim de semana num exercício entre o revivalista e o nostálgico, e pude constatar que efectivamente as composições não iam cheias, a abarrotar, e que, feitas as contas é impossível que dê lucro. Mas, isso, só por si, não basta para tornar essa decisão economicamente racional ou sequer compreensível. O grande custo de uma linha ferroviária está na linha e no equipamento e esse investimento está feito. Mais. Devem ter sido gastos milhões naquela linha nestes últimos tempos porque a linha está nova, a estação de Águeda está em obras, e basta olhar para vários locais de passagem do comboio para ver o dinheiro que foi gasto no melhoramento das escarpas envolventes. Os ordenados do maquinista e do bilheteiro (os bilhetes são comprados dentro do comboio) não devem ser incomportáveis, e o bilheteiro mostrava surpresa com a decisão que ainda não sabia se ia avante, ou não. "Bem", dizia ele, "mas se for para fechar, vão-nos dizer de um dia para o outro. É sempre assim". Mais à frente, na estação e nos seus arredores, vários azulejos assinalavam os cem anos da linha do Vale do Vouga que se vê que foi uma grande conquista das populações. E faz impressão. Faz impressão pensar que há cem anos houve quem visse a abertura da linha como uma conquista pessoal, como motivo de empenho de avanço e de melhoria da vida das populações, e que, de repente, e sem mais, ela vai ser riscada do mapa ferroviário em beneficio de uma qualquer empresa ou linha de camionagem que fará o mesmo trajecto por estradas cheias de trânsito, desbaratando-se recursos, e atirando-se para a berma, condenado ao abate, o pequeno comboio regional de cor vermelha tão carinhosamente chamado “Vouguinha”….

1 comentário:

  1. E desde quando é preciso as composições irem a abarrotar para serem «rentáveis»?
    E rentabilidade é o quê? É conta de merceeiro? Ou é colocar de um dos lados da balança mobilidade, emprego, desenvolvimento (coisas que estão a saque, a modos que desaparecidas), menores importações de ouro negro, menores mortes na estrada, mais assiduidade no emprego, mais produtividade, etc, etc?
    Essa conversa da rentabilidade foi inventada (usada, que o dito senhor não se me apresenta muito criativo) pelo presidente da República Cavaco Silva, e desde então a rentabilidade do caminho-de-ferro piorou pelas razões que «todos» conhecem, mas que os gestores das empresas CP e Refer não exergam!
    Haja paciência! E denúncia!

    José Cândido - GAFA - GAFNA - MCLT

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