quinta-feira, outubro 20, 2011

Negação, Revolta, Tristeza e Aceitação

São, segundo os especialistas, as quatro fases por que passamos quando perdemos algo importante para nós.
Não sei se se aplica também a um povo inteiro mas, pelo menos, a primeira fase nós já passámos colectivamente.
Na melhor das hipóteses há 3 anos que andamos em negação. Na pior há mais de 10 anos que temos dados para saber que íamos falir.
Voltando às fases da perda, também me parece que iremos passar muito em breve pela segunda. A revolta. Já estão marcadas greves, já começamos a atirar culpas para todos os lados, já assistimos a discussões nas TV em que o tom é claramente zangado. Tudo é irracional e emocional. Basta ler os jornais para ver as opiniões mais dispares e antagónicas muitas vezes das mesmas pessoas.
Antecipo que 2012 será marcado pelas duas fases finais. Será um ano triste e resignado.

E qual é a perda colectiva? Serão os nossos salários mais baixos, serão os desempregados em maior número, serão as empresas a fechar, serão as autarquias asfixiadas. Não me parece. Isto serão os sintomas de uma perda muito maior. Acabámos de perder o nosso modelo de "crescimento", baseado no Estado e debaixo de um pressuposto que o Estado tudo pode e que tem recursos infinitos.

Olhando para tudo isto ocorrem-me duas perguntas. Não teremos alternativas? O que podemos aprender de tudo isto?
Quanto à primeira tenho muita pena mas eu não encontro outra resposta: NÃO.
Quando devemos o que devemos, quando já prometemos muitas vezes e nunca cumprimos, não temos mesmo alternativas. Podíamos ter outras medidas? Seguramente que sim mas não eram melhores que estas. Chegámos a um ponto em que as medidas que temos de tomar são todas más, no sentido em que são todas dolorosas.
E a culpa é nossa.
É nossa porque há mais de 10 anos que sabemos que este modelo ia falir. E mesmo assim fomos escolhendo quem nos apresentou o caminho fácil. Ainda hoje temos quem continua a apresentar-nos esse caminho. Ainda hoje temos quem nos levou por este caminho, com a nossa permissão, e nos continua a prometer o mesmo debaixo de uma capa de "cordeiro". Estou a falar da esquerda, estou a falar de Cavaco, estou a falar de todos os que continuam a achar que é possível resolver este problema com limites aos sacrifícios.

E podemos aprender alguma coisa? Eu acho que devemos aprender.
Na minha perspectiva em duas áreas.
Uma que resulta na implementação de um modelo muito estrito para a forma como, quem escolhemos para nos governar gasta, o nosso dinheiro. Um modelo que valorize o Tribunal de Contas (que há anos descreve nos seus relatórios mau gasto de dinheiros públicos sem que nada aconteça), que seja severo e rápido com quem não cumpre e que garanta total transparência na forma como o dinheiro é gasto.
Outra que colectivamente nos leve a avaliar quem escolhemos tendo em conta o longo prazo. Aqui também se aplica a palavra sustentabilidade. Nesta lógica o Alberto João perdia a eleições, bem como a maioria dos autarcas conhecido como "dinossauros do poder autárquico".

E para acabar, como dizia Raul Sonado, façam o favor de ser felizes. Neste caso façam um enorme esforço para o conseguirem. Eu vou tentar.

2 comentários:

  1. João, em 1872, Eça, que, que eu saiba não era nem político, nem economista, escreveu:"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal"
    (in As Farpas)
    1872
    Eça de Queirós
    Ao que parece, desde então, nada mudou. O melhor é mesmo aceitar. Bj Blu

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  2. Muito bem João. Também vou tentar ser feliz. Mas tá dificil...

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