Quando as ondas do "subprime" nos States começaram a rebentar nas costas de ambos os lados do Atlântico Norte, dando sentido descendente à linha da evolução económica dita ocidental, alguns economistas/analistas vaticinaram então que esta iria descrever uma curva em "W", isto é, que àquela descida sobreviria alguma recuperação, seguida de nova recessão, sendo que só após esta segunda quebra se voltaria a ver a linha subir estavelmente no gráfico.
Já por aí os há agora a dizer que os recentes tremores bolsistas confirmam a entrada no segundo "V" daquele anunciado "W". Mas eu, que de curvas e contracurvas, para além das da minha barriga, só entendo as da estrada, cheira-me que a coisa não funciona bem assim, antes me parecendo que a linha da evolução económica está a descrever um "L" e não um "W" (e se o “L” se virá a transformar em "U", a ver vamos...)
Com efeito, todo este palavreado de crises-para-lá-subcrises-para-cá me cheira apenas a uma única crise: a da Dívida. A Pública e a Outra. Como me palpita que ela por aí se irá manter por mais uns anitos ainda.
Na realidade, tanto europeus como norte-americanos, todos nos habituamos a viver acima das nossas reais possibilidades, temos Estados gordos e demasiado sociais (mais os de cá que os de lá) que, para além de reguladores, intervêm ainda demasiado na economia, quer como grandes patrões, quer mesmo como agentes económicos. Como dinheiro público é coisa que não existe, nem cai do céu como a chuva deste verão, tudo devia ser alimentado pelas contribuições fiscais da economia privada. Como estas, apesar de pesadas, ainda são insuficientes, recorre-se então ao crédito para colmatar o diferencial. Mas de tal modo continuado até que as agências de notação, fazendo apenas o trabalho que lhes pagamos, gritam: Cuidado! E prontos, logo o credor geme: Ai Jesus! vasculhando apressadamente na gaveta o seu livro de facturas. E os políticos berram aos eleitores: Ai os malandros dos Mercados!
Não sei que aspecto têm os Mercados mas cá para mim imagino-os sempre com cara de quem frequenta o Jardim Infantil. Efectivamente não conheço coisa mais irracional, e mimada, que os Mercados. Para os tentar manter sossegados, logo os Políticos (e os seus bancos centrais) juntam os pesinhos debaixo da mesma mesa, sobre a qual rabiscam umas tantas declarações que lhes oferecem. Mas os Mercados, como meninos mimados que são, logo pedem mais. E algo mais docinho. Pesinhos de novo debaixo da mesa e lá vai mais um chupa-chupa, mas que depois de todo lambidinho traz nova birrita, pois claro!
Não sei para que lado penderá esta troca de piropos político-mercantil, mas parece-me claro que, para conseguirem acalmar realmente os Mercados, os Políticos ocidentais vão mesmo ter que passar do chupa-chupa para o grande cone de gelados vários. E com muito creme em cima. Só que isto já implicará, tanto para norte-americanos como para europeus, repartir com os Mercados algumas das bolas de gelado a que tanto se habituaram.
Estaremos dispostos a isto? A viver mais moderadamente? A ser mais comedidos no nosso (também irracional) ímpeto consumista? No fundo, a baixar um pouco o nosso fantástico nível de vida e, com este, trazer finalmente a Dívida para níveis sustentáveis?
Haverá alternativa?
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