O pedido de ajuda que o governo agora decidiu apresentar à Europa (tanto faz se foi aos amigos europeus ou à Comissão) significa várias coisas.
Uma das menos dispiciendas é o fim do dirigismo. Ao contrário do que clama uma certa esquerda militantemente protestante, a política tem dominado a economia nas últimas décadas portuguesas. De facto, sobretudo neste último governo, acreditou-se e viveu-se numa realidade em que os governantes se empenhavam em "inventar" negócios que propunham aos "privados", oferecendo-lhes "crédito" barato por parte da banca - obviamente mediante fartas contrapartidas que agora se acumulam para desenhar a verdadeira dimensão da nossa dívida pública.
Isto para não falar desse dirigismo mais directo que se aplicava às empresas públicas ou detidas pelo Estado, a quem se impunham objectivos de investimento e operação (por exemplo às transportadoras), facilitando-lhes a acumulação de dívida com a convicção de que não teriam de ser pagas ou seriam quando o crescimento económico o permitisse.
Obviamente, este modelo esgotou-se. E mesmo que a nossa classe política não o tenha percebido, aí virão os fiscais dos fundos que nos emprestem para o lembrar sempre que for necessário.
Isso é bom. É mesmo muito bom, porque a economia deve ser regida por critérios de criação de riqueza e, salvo raras e justificadas excepções, de maximização dos lucros actuais e futuros de quem investe. Nem sempre esses critérios e objectivos estarão alinhados com as prioridades políticas do País, seja de política social, como agora está na moda, redistributiva, ou qualquer outra. E essa é a principal função da política na "condução da economia": fixar o enquadramento das decisões dos agentes económicos. Com estabilidade, porque se as prioridades se alterarem ao sabor dos momentos, obviamente ninguém pode tomar decisões económicas sãs.
Por conseguinte, este recurso aos credores de último recurso acarreta também a grande vantagem de matar esse mito de que os governantes sabem melhor do que os gestores o que é bom para a economia. Talvez por confiarem nesse mito é que tantos governantes acreditaram que seriam bons gestores e/ou confiaram nos seus colegas políticos para gestores. Pagarão agora o preço que merecem.
Só não se compreende como é que tantos gestores se deixaram levar na conversa. E se se compreende é por suspeitarmos de razões pouco apresentáveis. O que também é bom que acabe.
Em todos os desafios há oportunidades. Oxalá sejamos capazes de aproveitar os actuais.
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ResponderEliminarPeço desculpa, mas esta análise está toda feita de cabeça para baixo. Ela assenta numa fantasia: a ideia de que em Portugal existe uma classe empresarial autónoma e independente do Estado. Não existe. Nunca existiu. Com as honrosas excepções de Belmiro de Azevedo e de Alexandre Soares dos Santos não existe em Portugal empresário nenhum que não viva à custa do Estado e que não dependa do Estado para viver. Logo, que esteja em condições de ser independente do Estado. Isto mesmo recordou ontem Soares dos Santos em entrevista à SIC Notícias, quando trouxe à baila o relatório que com outros empresários elaborou, que o primeiro ministro rejeitou e a que os seus colegas se recusaram a dar publicidade com medo das retaliações do Governo que lhes dá o sustento.
ResponderEliminarPor isso, meu caro Ventanias, a sua reflexão está errada de alto a baixo. Aquilo a que com largo exagero chamamos "o empresário português" é normalmente apenas um chico-esperto que logrou os contactos certos para umas negociatas com o Estado em que não corre qualquer risco. Ou melhor, em que, como no caso das concessões resultantes das parcerias público-privadas, o seu risco é entre ganhar muito ou ganhar ainda mais. o dito "empresário português" é tão avesso ao risco como o seu compadre que escolheu ser funcionário público, porque isso lhe garantia a estabilidade e a segurança.
O Ventanias diz: agora o FMI acaba com esta mania de o Estado promover o negócio dos privados. Pois acaba. Mas o que daí se segue não são os privados a promover negócios sem o estado. São os privados a não promover nada. E a irem para as reuniões das suas associações protestar, exigindo que o Estado salve o seu sector. Como os trabalhadores fazem na rua, em defesa dos seus salários.