É possível, mas muito pouco provável. Mas vale a pena especular sobre o assunto. E se o PCP e o Bloco se entendessem sobre uma verdadeira alternativa de esquerda?
Naturalmente isso teria de passar por um qualquer entendimento pré-eleitoral, digam os seus responsáveis o que disserem. Esse entendimento teria de passar por "uma política", como eles próprios gostam de dizer, diferente. Por política entenda-se um conjunto de medidas a propor ao eleitorado que verdadeiramente representem uma alternativa aos projectos de centro e de direita.
Os tempos são excepcionais, como bem ilustram as notícias de hoje sobre as dificuldades de financiamento das empresas de transporte. Para quem ainda não tinha percebido o que significa o País não ter dinheiro, estas notícias devem ter sido resposta suficiente.
Elas revelam dois dados essenciais.
Primeiro, que a "fuga para a frente" em que andávamos a viver, pedindo crédito que não se sabia como seria pago, chegou ao fim. Este modelo de irresponsabilidade institucional esgotou-se; desde logo porque o Estado não tem meios para socorrer os aflitos, mesmo que o quisesse fazer, e depois porque veio a lume a dimensão e amplitude do "esquema" em que fingíamos que tudo era possível.
Em segundo lugar, estas notícias revelam a gravidade do que todos sabíamos: os bancos nacionais não têm dinheiro para emprestar a quem necessita, muito menos neste tipo de projecto mal pensado, pior estruturado e irresponsavelmente financiado.
Não têm dinheiro e têm boas razões para não emprestar.
Desde logo porque provavelmente já deviam ter parado de financiar este tipo de "devaneios governativos" à muito tempo, justamente porque persistir nesses erros oníricos só agravou as dificuldades do País e dos próprios bancos. Além disso, o crescimento insustentado dos bancos nos últimos anos, baseado num modelo de financiamento interbancário que desapareceu com a crise financeira de há três anos e numa utopia de propriedade universal já globalmente desmentida, coloca-os agora numa situação particularmente delicada de terem de obrigatoriamente reequilibrar os balanços, com urgência, sob pena de caírem numa situação de falência sistémica num momento em que o Estado não tem condições para os segurar.
Perante tudo isto, e o muito mais que o enquadra, seria muito útil ao País que a esquerda do protesto militante percebesse a gravidade da situação e nos apresentasse as suas próprias propostas e opções alternativas. Ficaríamos assim, finalmente, a saber o que pretenderiam fazer se um dia chegassem ao Poder. Tornariam claro que soluções julgam que têm.
Simultaneamente, contribuiriam para a desmistificação das opções do Governo e do PS de José Sócrates. Pela esquerda.
Permitiriam um melhor e mais saudável confronto com as propostas e opções da Direita, seja ela o PSD, para quem ainda acredite nisso, ou o CDS, cada vez mais credívelmente.
Era bom demais para ser verdade, não era?!? Infelizmente também o creio. Mas como os tempos são excepcionais...
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