Não vou escrever sobre futebol, mas a situação é parecida.
Refiro-me à culpabilização das Agências de Rating. Esses "malandros" que têm vindo a reduzir as "notas" dadas à obrigações de dívida soberana. Há mesmo um grupo de economistas (ligados aos BE) que acha que as Agências de Rating deviam ser processadas.
O meu primeiro comentário vai para o facto de nunca nos termos queixado das Agências de Rating quando tínhamos acesso fácil ao crédito e uma boa notação.
As Agências de Rating existem para anular eventuais assimetrias de informação nos mercados. São entidades especializadas que analisam profundamente um determinado título e divulgam a sua opinião sobre a sua capacidade de criar valor (no caso das acções) ou de cumprir o pagamento (no caso das obrigações). Para simplificação isto traduz-se numa nota.
A partir dessa nota os investidores farão as suas escolhas. No caso das obrigações exigindo taxas de juro superiores para notas de rating mais baixas e o inverso nas melhores notas.
É assim que o sistema funciona e faz sentido.
Não nego que o sistema não é perfeito em especial porque, aparentente, existem conflitos de interesse. Ainda porque, como em qualquer opinião, há uma margem de subjectividade nas notações das Agências de Rating. Ainda mais porque, objectivamente, as Agências de Rating se tem vindo a portar de forma quase "bipolar" e pouco credível quando classificam os titulos acima do seu risco e, recentemente, quando baixam abruptamente as suas notações.
O meu ponto é que faz pouco sentido reclamar com as Agências de Rating. Mesmo que elas não existissem nós teríamos o mesmo problema para resolver. Acrescento ainda que é provável que elas terão sido responsáveis por um adiar do problema, já que o que é incompreensível é a nossa nota de há um ano e não a que temos agora. Por isso eu acho que se não houvesse rating é natural que, há mais tempo, os nossos credores nos tivessem dito "basta".
Reclamar com as Agências de Rating é atirar ao lado na resolução do problema. É ainda arranjar uma desculpa, coisa muito habitual cá por esta terra.
A semelhança com o futebol é que também lá os arbritos são fracos. Também lá cada vez que um clube perde o seu discurso é o de culpar os arbritos. E também lá quem é bem sucedido (dentro e fora do país) é bom a jogar futebol com um bom ou mau arbrito.
Para nossa desgraça o arbrito foi péssimo porque nos perdoou um ou dois pénalties no primeiro tempo. Entretanto fomos sofrendo golos atrás de golos. Agora que ele marcou penalti numa jogada em que temos dúvidas legítimas. Mas não lhe podemos atribuir a responsabilidade de termos jogado de uma forma miserável.
Com a agravante de que as agências de rating se pronunciam sobre o futuro o que aumenta a incerteza das suas previsões. Como se sabe o futuro a Deus pertence...
ResponderEliminarDe resto estou de acordo no essencial. Apenas discordo nos golos: não os sofremos, foram mesmo auto-golos. E esse é que é o sinal da dimensão do mal que jogamos...
Que profunda análise é que fez com que as agências de rating tivessem atribuído sempre excelentes notações aos bancos americanos que foram à falência - isto é, que estão em processo de recuperação, uma vez que verdadeiramente não foram à falência - na sequência do 'subprime'? Ernesto
ResponderEliminarPor acaso, caro Ernesto, a pergunta é não só pertinente como muito boa.
ResponderEliminarA questão é que as agências de rating, tal como os supervisores (embora estes tenham mais responsabilidade), confiam (ou confiavam) nos modelos matemáticos que suportavam produtos estruturados como os do chamado subprime. E acontece que esses modelos podem fazer sentido no papel... pelo menos enquanto não se questionem os pressupostos dos mesmos ou a qualidade dos activos subjacentes.
Como se recordará, os ditos bancos americanos não passaram só do tripo A para a falência; também passaram de lucros astronómicos e galopantes para prejuízos de bancarrota...
Tirando isso, as ditas agências, com todos os defeitos que possam ter, não passam de árbitros, na linguagem do JoãoMPorto.
Pior, muito pior, foi o papel dos supervisores, porque esses tinham, na América, e tem, em Portugal, competências legais para questionarem não só os modelos, como a qualidade dos activos subjacentes, como sobretudo tem a responsabilidade de "deitar água na fervura" em momentos de "bolhas" - isto é, em momentos de aceleração do crescimento financeiro pouco ou nada sustentado no crescimento real; foi o caso do subprime e do imobiliário lá, e o caso da dívida, pelo menos das PPP, cá...
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ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo com o essencial do post do João. É claro que essas agências têm culpas no cartório, mas fazer delas o mau da fita no nosso caso é apenas desculpa de mau pagador e uma distracção. Aliás, a Europa disse que ia montar uma agência de rating e até agora nickles. Entretanto, penso que se poderia internamente, ao mesmo tempo que se dissolveriam uma catrefa de observatórios patetas que por cá vegetam e outras coisas do género, criar uma agência de rating interna que avaliasse a solidez financeira de todas as entidades públicas emissoras de títulos de dívida ou que recorram a empréstimos bancários, a saber as empresas públicas, para-públicas, municipais, fundações e quejandos, deixando para o Banco de Portugal a responsabilidade de uma supervisão verdadeira e não do tipo 'constâncio'
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