quarta-feira, março 30, 2011

Pagar ou não, eis a questão

Pelos vistos já não sou o único a achar que não devíamos pagar tudo o que o actual regime nos fez ficar a dever - ou prometeu que ficaríamos a dever, como no caso das PPP.

Barry Eichengreen, considerado pelo Economist um dos mais importantes economistas do pós-crise financeira, afirma-o aqui no Público.

Pela minha parte, penso que devíamos começar por renegociar todas as PPP, o que implica explicar aos bancos financiadores das mesmas, e às empresas financiadas, o que é que não vamos pagar, em que novos prazos o vamos fazer e a que novos juros o aceitaremos, depois de termos repartido melhor os riscos envolvidos; é que sem partilha de risco não há PPP verdadeira, como bem tem sublinhado o Tribunal de Contas.

Além disso deveríamos aproveitar o próximo recurso aos fundos europeus (e ao FMI) para reduzir parcialmente a dívida externa junto dos nossos credores.

Finalmente deveríamos criar impostos que discriminassem negativamente (mais impostos) a compra de bens supérfluos, por forma a reduzir drasticamente o consumo de importações, sobretudo automóveis.

Mas tudo isto só fará sentido se nos propusermos a nós próprios um programa de correcção financeira que reequilibre as contas do Estado, em primeiro lugar, e a dívida externa em segundo. Em dois anos.

Ora, para conseguirmos este segundo objectivo será necessário encontrar caminhos de crescimento económico, como o CDS bem tem sublinhado. Quanto a mim proponho já duas áreas que merecem atenção redobrada dos próximos governantes: a floresta e o imobiliário para não residentes.

Estas são áreas de potencial ainda pouco explorado; reúnem capacidade de captação de investimento e perspectivas de aumento das exportações. Se se criar um regime fiscal atractivo, poderão traduzir-se a curto/médio prazo em aumento do emprego. Dizem-me ainda que há grande potencial na exploração das reservas de lítio existentes em Portugal; parece que se andam por aí a cozinhar os negócios do costume para entregar o esquema a alguns, poucos, amigos do regime; sabendo-se que a procura de lítio tende a aumentar e que as nossas reservas são importantes, uma solução óbvia seria liberalizar esse mercado e flexibilizar o licenciamento dos projectos de investimento já existentes e em preparação.

Para já não falar da venda de património do Estado, começando precisamente pelas florestas e prédios. Ao melhor preço e não aos valores de balanço dos institutos. O que interessa é liquidez.

Enfim, há por aí muito que fazer. É preciso e ter vontade. E preparar um programa que permita explicar aos portugueses que um esforço de 2 anos poderá ser recompensado com a retoma de crescimento no terceiro ano, em condições mais saudáveis do que actualmente. Sem défice. E com a dívida externa controlada.

É possível um Portugal melhor. Basta querer.

2 comentários:

  1. Acho que 2 anos nem com ventanias favoráveis...
    abrs
    JAC

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  2. Dois anos, caro JAC, era uma proposta de concentrarmos os sacrifícios necessários num período curto, tendo como objectivo chegar ao equilíbrio orçamental, para poder começar a crescer outra vez... Era, até ao Negócios da Semana de hoje.

    Depois desse programa, Portugal não é o que pensava. Não sei bem o que será, mas é certamente outra coisa.

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