É ser uma bandeira que esconde mais do que mostra.
Creio que ficou claro, apesar das tentativas de apropriação de uma certa esquerda, que o que unia os manifestantes deste passado sábado não era apenas, ou sobretudo, a questão da precariedade laboral.
Se alguma coisa unia a diversidade de manifestantes, a julgar pelas imagens televisivas - e são essas as que marcam, goste-se ou não, o significado das manifestações -, era o descontentamento com um regime, no sentido de sistema, que lhes defraudou as expectativas.
É este também o meu sentimento, de há muito tempo para cá. Foi por isto que estive tentado a participar. Não o fiz, porque me venceu a sensação de que o essencial seria a reclamação de "empregos seguros"; enganei-me...
De facto as pessoas aproveitaram esta primeira oportunidade genuína, no sentido em que seria extra-partidária, para manifestar o seu desencanto com o rumo do País e, porventura mais ainda, com o estado a que o País chegou.
Estas três décadas e meia de democracia viveram da promessa do "direito ao emprego" e de uma certa tentativa de igualização, no sentido de igualdade sócio-profissional. Pediu-se às famílias para mandarem os filhos para as universidades com a promessa implícita de que encontrariam empregos seguros. Pior ainda, depreendia-se dessa promessa que era indiferente o curso escolhido; qualquer que fosse, logo se encontraria o almejado emprego seguro.
Já todos percebemos que não é assim, nem nunca será, apesar do que possa continuar a pedir uma certa esquerda.
Porém, creio, há uma fonte deste descontentamento generalizado que ainda é mais profunda e que, por isso mesmo, nos une ainda mais. A da imoralidade instalada.
Todos temos consciência de que há uns quantos para quem a coisa continua a melhorar e é cada vez mais fácil; temos consciência de que as diferenças entre uns e outros se têm vindo a agravar e por isso é que a "desigualdade" atinge níveis terceiro mundistas, em Portugal; temos a sensação que o Estado e os nossos impostos são usados para objectivos que não se percebem nem se compreendem; temos a intuição de que enquanto nos pedem sacrifícios, continuam a usar a receita fiscal para insistir nos erros e nas apostas do passado, que nos trouxeram até aqui... etc, etc.
Creio ter sido este o verdadeiro motor da diversidade de participantes nas manifestações. Sabemos que a coisa está mal, não estamos contentes com a falta de oportunidades, e sabemos que a precariedade é apenas um sinal desse mal estar.
Num certo sentido, este foi o momento em que Portugal gritou: Não sabemos por onde vamos, mas sabemos que não vamos por aí!!!
Creio que estão criadas as condições para convencer os portugueses que a solução não pode ser a de continuar a prometer "direitos" - ao emprego, à educação, à saúde, às reformas antecipadas, etc, etc. Creio que está na altura de começar a prometer um caminho.
Sempre acreditei que a democracia-cristã era o caminho: liberdade económica e regulação estatal; separação entre economia e política; reforço das instituições e separação dos "poderes"; apoio aos mais carenciados e recompensa do mérito dos mais capazes.
O congresso do CDS aproxima-se rapidamente. É altura de propor um caminho alternativo, sem hesitações e com clareza. Conscientes da dimensão dos desafios e seguros do valor das nossas soluções.
É possível um Portugal melhor. Basta querer!
Para que é esse congresso do CDS, ao certo?
ResponderEliminarPara querer.
ResponderEliminar