domingo, março 13, 2011

Força!



Várias circunstâncias impediram-me de vir aqui expressar préviamente a minha compreensão e apoio ao grito de revolta da auto-denominada “geração à rasca”. Vir agora acrescentar o que quer que seja a esse grito das centenas de milhar que saíram à rua poderá ser visto como mais um adesivo oportunista e tardio, mas corro o risco sem embaraço.

Considero extremamente positivo que tenha finalmente havido uma movimentação de massas para dizer o seu mal-estar e frustração face a um regime que lhes não merece nem respeito nem confiança. Haverá agendas escondidas de alguns, ter-se-ão ouvido aqui ou ali palavras de ordem equívocas e lia-se um ou outro cartaz talvez despropositado, mas o essencial a meu ver foi e é esse sentimento que se espalha de que esta classe política que nos governa é, no geral, um bando de videirinhos, entre os quais se misturam aldrabões encartados que merecem ser escorraçados sem apelo nem agravo.

Uma certa intelectualidade pedante, de esquerda e de direita, balbuciou nas vésperas do dia 12 umas análises muito sábias a menosprezarem uns meninos mimados que quereriam o conforto dos pais e a segurança de outros tempos. Foi confrangedor ler essas diatribes do Sousa Tavares, de uma D. Isabel, de um Pacheco Pereira, do ex-presidente Soares, etc. etc. Tudo gente bem instalada na vida e no regime, com acesso às televisões e aos jornais, e cujas descendências, se as têm ou se as tivessem, não sabem nem saberiam o que é a precaridade e sobretudo a falta de prespectivas para o futuro.

Não faço ideia de como esta energia que desaguou nas praças portuguesas vai evoluir e amadurecer, mas é em si um dado novo que traz uma esperança inédita: a de que a nossa gente está a acordar e quer reagir. Força!

6 comentários:

  1. Tratemos bem esta geração. São quem vai pagar as nossas pensões, sem a elas ter direito, e as nossas dívidas.
    FRF

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  2. Uma certa intelectualidade pedante, de esquerda e de direita, balbuciou nas vésperas do dia 12 umas análises muito sábias a menosprezarem uns meninos mimados que quereriam o conforto dos pais e a segurança de outros tempos.

    Estou neste grupo. Basta ver as canções que os manifestantes escolheram (a "tourada" em Lisboa e a "desfolhada" no Porto) para perceber que não havia nos manifestantes revolta absolutamente nenhuma. O seu mundo é o passado. Não é o futuro. Não serão certamente mimados, mas sim, o seu desejo é apenas regressar ao mundo seguro e promissor que Marcello Caetano lhes começou a abrir e o 25 de Abril consolidou. Acontece que esse mundo acabou. Os manifestantes não querem criar um mundo novo. Querem apenas regressar àquele que desapareceu e já lá não está. Marcharam contra a realidade. Por isso não havia neles revolta. Havia apenas tristeza, desilusão e resignação. Dois tiros de pólvora seca para o ar dados pela polícia, e estes revoltosos todos tinham corrido assustados para casa.

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  3. à rasca? à rasca estão os pais desta geração, que criaram todas as condições para dar aos filhos um futuro seguro e agora aguentam os filhos em casa até aos 30 anos, pagam-lhes mesadas infinitas, resolvem-lhes caprichos e ainda saiem à rua para lutar pelos direitos dos filhos, como fizeram ha 30 anos pelos seus proprios sonhos. e terão de trabalhar até quase aos 70 anos para verem a sua reforma por um canudo...
    vida ingrata, a desta geração.

    pipa

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  4. Funes ,o memorioso, exprime o que algures já exprimi no grupo do FB que me convidava a juntar-me ao milhão de votos para ... blablabla.
    Aqui deixo o final do meu comentário:
    Em 68 havia um slogan que dizia:"Cours ,camarade,le vieux monde cours derrière toi".
    Pois bem, neste caso este movimento de "revoltados" mais me parece ser "le vieux monde" em pleno exercicio de acrobacia política...

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  5. O "vieux monde" em exercìcio de acrobacia é o Senhor José e o actual governo. Tenho ouvido dizer que o regime não pode cair porque não hà alternativas e o paìs se afundaria numa crise ainda mais dramàtica que a que se vive neste momento. Penso que é precisamente por não haver alternativas que, caindo o regime, se poderà criar algo de verdadeiramente novo, a mudança a que aspira esta geração, talvez à rasca, mas que sabe pensar fora do quadrado.

    Au loin la liberté

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  6. Criaram todas as condições para dar aos filhos um futuro seguro? Dir-se-ia que não...
    As ameaças que pesam hoje sobre o nosso destino comum devem-se no essencial às nossas grandes trangressões.

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