quarta-feira, outubro 27, 2010

Comprometer o futuro


Um dos mais graves problemas que o país enfrenta é o da baixíssima natalidade.
Em 40 anos a taxa de natalidade baixou mais de metade, pois se nos anos 60 a média de filhos por família era de 3, desde 2003 que passou a ser inferior a 1,5 ( a renovação da população exige uma taxa mínima de 2,1 por casal).

É natural que em época de grave crise e descalabro político e económico-financeiro, a prioridade mais sentida seja o combate ao desemprego, tanto mais que o país desliza há anos para valores arrepiantes e o futuro próximo não se anuncia melhor.

Contudo, a médio e longo prazo, aquela anemia ou medo das famílias portuguesas em crescerem constituirá um handicap gravíssimo para a nossa identidade e para o nosso desenvolvimento. Se a tendência não se inverter rapidamente, Portugal recuará mais de um século em termos populacionais e chegará a 2050 com menos de 8 milhões de cidadãos, com a agravante de que o peso dos seniores ultrapassará a quota da juventude. Ou seja, a total irrelevância em termos ibéricos e em termos europeus.

A atitude sobranceira e displicente que os políticos nacionais vêm demonstrando relativamente a este problema revela-se na sua plenitude no Orçamento para 2011 que o Governo propõe ao país: a forte penalização das famílias, com o agravamento de impostos sobre bens essenciais, nomeadamente alimentares, e a supressão da maior parte dos já de si ridículos abonos por filho a cargo, espelha bem essa irresponsabilidade e essa “modernidade”. A inexistência em Portugal de uma verdadeira política de protecção da família pode mascarar-se do seu contrário através do caducado cheque de 200 euros ao nascituro ou do aumento das licenças de maternidade e paternidade. Mas de nada valem esses fogachos se ao mesmo tempo perseguimos e acabrunhamos a família com um garrote fiscal e económico que lhe tira a esperança e a confiança. Aliás, a inversão de valores é de tal ordem que quase achamos melhor acusar a família numerosa como um desvario de irresponsáveis ou a obra dos ignorantes do planeamento.

É fundamental que o país se aperceba que o actual rumo é desastroso. É urgente a criação de um estatuto da família numerosa (a partir de 2 filhos) que lhes faculte a redução para metade das tarifas da água, da energia, dos transportes, que estabeleça o cartão familiar para serviços culturais e desportivos e que module a política fiscal, nomeadamente o IMI, em função do agregado familiar e não da dimensão do bem. É indispensável que cada proposta legislativa, que cada medida administrativa, que cada decisão política seja precedida de uma avaliação séria e quantificada das suas implicações sobre a família. Enfim, é inadiável uma política se quisermos construir um país que valha.

2 comentários:

  1. Há uns anos atrás achei curioso que, num mesmo dia, o mesmo jornal dava notícia de medidas incentivadoras da natalidade na Alemanha e, numa outra página mais à frente, mencionava iniciativas duramente restritivas da mesma na China.

    Parece inquestionável que, face a uma particular situação, se pode encorajar ou desincentivar a natalidade, posto que com políticas de longo prazo, as quais porém não se esgotam num subsídio ou benefício, fiscal ou outro. Concordo também que o nosso actual momento é de criar incentivos para apoiar uma tendência já algo crescente. Mas, como em tudo, para uns receberem outros têm de pagar e a nossa situação é agora de aperto nesta matéria.

    Não obstante tenho para mim que tais políticas, posto que possam algo influenciar, não são a principal determinante da natalidade. Bastará por certo olhar para os países pobres de África, da Ásia ou da América do Sul, onde a taxa de natalidade é muito superior à dos países ricos, para tal se perceber.

    Não tenho aqui quaisquer dados estatísticos sobre este fenómeno, mas recordo-me de já os ter visto.
    Os que achei mais interessantes mostravam haver uma relação muito directa entre educação e natalidade, claramente indicando que sempre quando o nível de educação de um país sobe, desce o da natalidade. E isto tem sido uma constante em qualquer país, de qualquer continente (creio que também poderás ver estes dados no livro do Emanuel Todd “La fin de l’Impire” que por certo ainda existirá em tua casa).

    O caso português não lhe tem sido excepção. Tão pouco o é na Europa ocidental, com quem estamos mais ou menos em linha, posto que com o natural atraso, e não em contra ciclo como pode parecer.

    No mais, como europeus, lá vamos colmatando também esta lacuna (passageira a meu ver) com imigração...

    Um abraço,
    FRF

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  2. Concordo com o diagnóstico e com a necessidade de implementação de uma verdadeira politica de família.

    Aconselho dar uma vista de olhos em:

    http://www.apfn.com.pt/invernodemografico/
    http://www.demographicwinter.com/index.html

    Isto está mesmo a rebentar!!!....

    Tratam-se de documentários muito bem feitos, com pessoas de inquestionável credibilidade.

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