Sendo o governo minoritário e dependendo a decisão sobre o orçamento de um consenso parlamentar, Cavaco começou por convocar os partidos com assento na AR e, repetindo-lhes isto em solene ambiente palaciano, apelou ao consenso.
PP, PCP e BE logo assobiaram para o lado, pelo que o apelo ao consenso se virou apenas para PS e PSD. Até as comemorações dos 100 anos da república se subsumiram a este apelo.
O PSD ficou à espera da proposta. Antes desta estar apresentada, não podia, nem devia, pronunciar-se sobre ela ou seu sentido de voto. A comunicação social, que isto não entende, nem respeitaria se o entendesse, logo lhe chamou tabu.
Como a proposta tardasse os apelos continuaram.
No entretanto, o malabarista PS, por si, seus capangas e seus comentadores de serviço, foi-lhes mudando o tom e transformou os apelos que a si e ao PSD se destinavam em apelos apenas ao PSD dirigidos. Exemplo disto foi a declaração que os seus bancários, com funções de banqueiros, conseguiram pôr na boca de um destes. Exemplo disto foi ainda a declaração do presidente da comissão europeia, em clara, descarada e infeliz intromissão em assuntos internos de um estado membro.
Sócrates chegou mesmo a ameaçar com a treta da sua demissão (que antes o poderá levar da cadeira de S. Bento para o banco dos réus, e não para o confortável sofá do seu apartamento de luxo como pretende fazer crer).
Finalmente a proposta foi apresentada com pompa e circunstância televisiva. Se tivesse sido de dia, estou certo que umas motos com umas câmaras de tv teriam acompanhado o percurso da famosa "pen" pelas ruas da capital, entre o Ministério das Finanças e a AR.
Sem perder tempo, o PSD analisou-a e formulou já contraproposta aos pontos que entende ser de rever. Como não revelou o seu sentido de voto, única coisa que à comunicação social interessa, esta continua a gritar tabu.
Mas as coisas são como são e o orçamento tem três fases: proposta - discussão - decisão.
E não decisão sem proposta nem discussão, como deseja o governo.
Ou decisão - discussão - proposta, como pretende a comunicação social.
No meio de todo este ruído, uma única dúvida me perturba: e se o orçamento não passar, iremos mesmo morrer?
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