domingo, julho 04, 2010

Quem não deve não teme?

Parece que isto dos chips das SCUT é como trazer um polícia no banco de trás, dizia-me esta semana o meu barbeiro enquanto me esquartejava a cabeleira, mas concluindo que, para ele, esse vasculhar de vida privada não seria um problema, pois que quem não deve não teme.

Deixei-o logo de tesoura suspensa ao retorquir que isto já não era verdade e, para que o homem continuasse o serviço, tive pois de lhe explicar que, mesmo nada devendo a ninguém, iria agora ter de pagar os desvarios dos outros.

Efectivamente, toda a vida pratiquei o princípio de viver, melhor ou pior, mas apenas dentro das minhas possibilidades. Por duas únicas ocasiões recorri ao crédito. Uma, quando o meu antigo velho carro entrou em greve e, para comprar o R5, o primeiro novo, faltavam-me 300 contos. A segunda para comprar o pequeno apartamento onde vivo, que entretanto, com a saída dos filhos, até já cresceu. O banco, simpatizando comigo, deu-me então 25 anos para lhe pagar o financiamento feito. Porém, fiel àquele meu princípio, no final de cada ano amortizava-o com as economias subjantes, tendo ficado pago ao cabo de 10 anos, para desgosto do tal banco que tinha sido tão meu amigo.

De que me valeu isto se agora vou ter de pagar pelos outros? Se calhar os que então me chamaram de lorpa até tinham razão. Mas, cada um é como é e eu já não vou mudar.

Porém, ao olhar à minha volta, há cerca de três anos atrás optei por acrescentar uma nova rubrica na minha mini contabilidade doméstica, um pouco à merceeiro, a que chamei “desvarios dos outros”, assim começando a construir uma provisão para o efeito. Fi-lo então mais a pensar nos cortes de pensões que por certo ainda ocorrerão até chegar a minha vez, hoje com data marcada para ... um dia. Mas agora, com mais este plano de extorsão do contribuinte (PEC), no final deste ano lá terei de reforçar aquela minha provisão. Isto se ainda puder. Caso não, restar-me-á rasgar o cartão de sócio das finanças e pedir a demissão do clube ao senhor ministro.

Não sei se aqueles que vivem acima das suas possibilidades terão ou não uma vida melhor que a minha. Mas que o aparentam, aparentam. Coisas da vida...

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