quinta-feira, julho 22, 2010

Postal de Tel-Aviv (2)

No final de um dia quente e húmido, cansados de um dia de visitas a aldeias na Galileia, junto da fronteira com o Libano, sem nada no frigorífico para jantar, a opção ` pizzas` teve luz verde. Sobretudo porque na rua Shenkin há uma pizzaria aberta até tarde onde as `pizzas` são muito boas.

"É turista ou está em trabalho?", pergunta-me um jovem dos seus 18 anos sentado junto ao balcão.
Olha para a minha maquina fotográfica e continua, "Deve ser em trabalho. Fotógrafa ? Eu também faço fotografia. Mas como amador. Que trabalho está a fazer aqui em Israel?"
"Acabo de chegar do norte, de uma visita às aldeias de Kafr Bir`im e Jish. Já alguma vez ouviu falar destas aldeias?", pergunto.

Pela reacção percebo que não. E a amiga ao lado, 16 anos talvez, também não.
Cito nomes de outras aldeias : Deir Yassin, Ein Hod, Allajoun .
Intrigado confessa que, estudante a entrar na universidade, nunca ouviu falar destas aldeias. Evidentemente que estudou a história de Israel. Que teve de estudar os acontecimentos que conduziram à fundação do Estado de Israel em 1948. Obviamente que sabe das milícias paramilitares de jovens judeus zionistas da Haganah, e da milícia de elite do Palmach, todas milícias clandestinas que lutaram contra ingleses e árabes, na conquista das terras para o futuro Estado . Mas a história dessas aldeias que lhe refiro, nunca ouviu falar.

Explico então que Kafr Bir`im era uma aldeia palestiniana cristã na Galileia, junto ao Libano , capturada pela Haganah no final de 1948 , que obrigou os habitantes a abandonarem casas e bens e a irem instalar-se noutras terras , de preferência na Jordânia. Quando em 1949 quiseram regressar foi-lhes impedido . Acabaram por deixá-los reinstalar-se mais a Sul, na aldeia de Jish. O Vaticano chegou a interferir apoiando-os na reivindicação de indemnizações. Até hoje sem resultados.

Kfar Bi`rim, a aldeia que tiveram de abandonar, não foi arrasada. Ao contrário de muitas outras aldeias palestinianas despovoadas pelas milicias que obrigaram ou incitaram as populações a partir. Sem direito a regressar. E nalguns casos as assassinaram. Como em Deir Yassin .

Kfar Bi`rim existe ainda. Ruelas cobertas de vegetação por entre ruínas de casas. Junto a um parque florestal onde israelitas palestinianos vão passar tardes em família. Uma funcionária do parque mostrou-me a ruína onde viviam os pais, obrigados a partir. E insistiu para que fosse ver Kfar Baram , junto às ruínas, um dos primeiros `Kibbutz`, fundado em 1949 pelos militantes do Palmach activos nesta zona , quando desmobilizados.

Os dois jovens na pizzaria da rua Shenkin, ouviram-me. Atentamente. Interessados, pensei eu.
Quando partia, já aviada, de `pizzas` na mão, perguntaram-me: "Are you a leftist?" ( És uma esquerdista?)
Recordando-me da reacção do antigo PM Isaacs Shamir que a uma referência sobre a relação de Jacques Chirac com o mundo árabe , comentara:" But Chirac is a leftist", respondi: "Esquerdista ou direitista , quem sabe ? Sou sobretudo uma pessoa interessada na história completa do Estado de Israel".

Maria

1 comentário:

  1. O lema constitutivo do Estado de Israel:

    «Quero, posso e mato».


    Já quanto ao Cogito judaico é todo um programa ancestral que vai do "minto, logo existo" ao "mato, logo existo".

    Enfim, coisas dum país a prazo.

    Dragão

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