segunda-feira, julho 19, 2010

O debate I

Linha do Tua: Sim ou Sim?

Cumprimentos a todos os bloggers do “Nortadas”.
Chamo-me Pedro Figueiredo, sou Arquitecto, 34 anos, e estive presente com bastante agrado no debate organizado pelo “Nortadas” no Museu da Régua.
Não houve tempo para eu intervir no final do debate, daí eu me dar ao “trabalho” de pedir a publicação desta opinião no “Nortadas”. Reparei entretanto que vocês poderiam ter um link para o blog onde costumo escrever, o “A baixa do Porto” e que normalmente tem intervenções que considero de alguma qualidade, sobretudo qualidade polémica.

Linha do Tua: Sim ou Sim? A minha resposta será sim. Tenho raízes familiares na zona do Tua, o meu pai produz vinho e azeite na zona de Foz Tua e o anúncio de uma barragem para aquela zona há cerca de dois anos (?) foi não só um murro no estômago dos Altodurienses do Tua, como de muitas pessoas – à esquerda e à direita – de bom senso, razão e inteligência “regional”. Aliás, caros bloggers, a minha primeira reacção foi mesmo não acreditar, de todo, por impossível, ilógico, irracional, etc...etc...
E no entanto, alguém, num gabinete fechado, a mais de 500 Km de distância deu-se ao “trabalho” de projectar uma barragem que produzirá apenas 0,3 % da energia eléctrica nacional, por cima de uma linha de caminho de ferro histórica, por cima de uma paisagem abrupta e milenar, agora e para sempre inacessível, já que o único ponto de vista humano sobre os magníficos canyons do rio Tua, é precisamente a linha. A linha do Tua faz parte da paisagem e a paisagem não faz sentido sem a linha do Tua, pois que sem esta não mais algum ser humano verá (e sentirá) os desfiladeiros “brutais” pelos quais irrompeu no nosso magnifico séc. XIX, essa brilhante obra de engenharia. Ao nível da engenharia qualquer uma destas barragens é um retrocesso técnico se comparada com a Linha do Tua. O futuro já foi há 200 anos. Agora, de facto, só andamos para trás...
É por isto que muitos turistas – gente culta e informada ao contrário dos nossos políticos do governo e da oposição - têm chegado aos milhares àquela zona – Italianos, Ingleses, Americanos – e têm tomado o comboio até Mirandela, “só” para apreciar uma paisagem única. Sei do que falo, porque falo do coração que já fez a viagem Tua – Mirandela, duas dezenas de vezes. E não cansa. Sempre diferente. Sempre deslumbrante.

É por isto que aquela Linha tem um potencial turístico, e portanto económico e local, enorme.
Com o advento das viagens de barco da Douro Azul, a chegada massiva de “estrangeiros” (...no mundo, ninguém é estrangeiro) ao aeroporto do Porto de milhares de vôos Low-Cost, é absolutamente realista e normal, haver - mesmo em plena crise, ou por causa dela - pelo menos meia-dúzia de empreendedores interessados em reabilitar com a CP ou apesar da CP, as viagens Tua – Mirandela, instalando hotéis, recuperando casas Rurais, fixando emprego local, etc...etc...

É por isso que me custou, e magoou mesmo, ter sabido de uma votação recente na Assembleia da República em que foi reprovada a “Classificação como Património” da Linha do Tua.
Ao que se soube, irracionalmente, com os votos acríticos da bancada do PS. Embora, infelizmente, com o nível médio de cultura das bancadas na AR outra coisa não fosse de esperar.
Não é novidade, que o PCP / Verdes e o BE tivessem votado pela classificação da Linha do Tua.
A grande novidade, e perplexidade para mim, é que as bancadas do PSD e CDS se tivessem “abstido” na votação... Não compreendo. Foi por ignorância. Foi por sectarismo, só para não votarem com a Extrema – esquerda. Terá sido por tacticismo, ou seja, por se acharem na esperança de também serem governo proximamente, e portanto, supostamente acharem que uma vez governo não quereriam ou “poderiam” deixar – afinal – cair o tal Plano nacional de barragens?
Ou a direita Portuguesa discorda do plano quando está na oposição e concorda com ele, uma vez no poder?
É que, bem vistos, não classificar a Linha do Tua é mais de meio caminho andado para aceitar a barragem como inevitável. É evidente, à luz de qualquer pessoa minimamente “normal”...
É por esta perplexidade que escrevo neste blogue. Se eu fosse de direita também não quereria deixar cair este cavalo de batalha com o governo (PS). Mais uma “divergência”...
Imagino que alguns dos nomes de bloggers estarão ligados de alguma forma à Direita Portuguesa. E como eu não estou, pelo contrário me assumo militante da esquerda mais extrema, actualmente BE, lanço aqui esta “polémica” (será polémica?) para alguém de direita ou de lado nenhum me tentar responder ou continuar em tom polémico o debate se quiser.
Obrigado pela vossa atenção. E respeito mútuo.
E agradeço o debate. São sempre esclarecedores. Ainda não perdi a esperança de ver a Linha novamente a funcionar, para viajar com os meus filhos, quando os tiver.
Cumprimentos aqui deste lado do hemisfério Político.

Pedro Figueiredo, arquitecto

3 comentários:

  1. Caro Pedro,
    A classificação da Linha do Tua não é (como dizia o Reagan, mas em inglês e a propósito de outro tema)uma questão de direita ou esquerda, mas certo ou errado.
    Pessoalmente, tenho muita pena que o CDS se acobarde nestes temas (da energia, do ambiente, etc).
    Obrigado pela contribuição utilíssima e um abraço
    JAC

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  2. Caro Pedro
    O dito "aproveitamento do Foz Tua" integra esse famigerado 'Programa das Dez Barragens', que afinal são oito, e que, como foi dito no debate da Régua, foi objecto de uma queixa junto da Comissão Europeia. Tudo indica que a Direcção-geral do Ambiente da Comissão Europeia, se quiser ser coerente com anteriores tomadas de posição, irá questionar vigorosamente o dito plano ou programa. Este assunto ainda não está encerrado e por isso é fundamental que todos os que como o Pedro questionam o afundamento da linha do Tua façam ouvir o seu clamor e engrossem este movimento de cidadania contra mais um crime do centro contra o Norte. Se as nossas vozes se estenderem talvez ainda consigamos que não se repita o caso do baixo Sabor e que pelo menos ninguém na Comissão Europeia se disponha a esconder debaixo do tapete outra violação contra o nosso património natural e ambiental.
    Calorosas saudações

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  3. concordo
    a questão não é de direita, nem de esquerda ou centro
    a questão é de toda a sociedade civil

    e concordo com o Douro
    até ao lavar dos cestos é a vindima e se a comissão europeia não resolver
    o Tribunal de Justiça da UE decidirá

    eu pelo menos estou com essa vontade...

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