sábado, junho 19, 2010

E amanhã?



Falar em déficits, orçamentos, política fiscal, recessão, spreads e ratings é abordar assuntos que a maioria julga entediantes, próprios de especialistas, e a verdade é que qualquer ministro das Finanças passa por ser uma inteligência que felizmente nos poupa a maçada de raciocinarmos sobre essas contas e essas implicâncias.

Depois de um período em que os Estados acorreram com biliões para alegadamente salvarem o sistema financeiro e com este a economia, passámos num piscar de olhos para um assalto ao utente, ao contribuinte, em nome da redescoberta de uma ortodoxia orçamental cuja ausência não incomodara pelos vistos ninguém durante largos anos.

Se um cidadão comum se atreve a fazer algumas perguntas, pedem-lhe de imediato credenciais e títulos, para afinal o calarem e dar apenas voz aos encartados de ontem e de hoje, que são os mesmíssimos que nos trouxeram, na sua infinita sabedoria, para este beco onde nos roubam a carteira.

Sou dos que pensam que se deve rejeitar liminarmente o simplismo demagógico de que não se pode ter mais despesa do que receita e que o déficit zero seria o padrão quase moral a respeitar. Mas partilho a ideia de que um Estado que não seja capaz de pôr critérios justos na despesa não tem autoridade política para cobrar mais receita dos seus cidadãos.

Começo a desconfiar desta mania luterana de exigir um puritanismo redentor como expiação de pecados passados. É irmã gémea da sua contra-face, ou seja, desse deixa-andar irresponsável e post-moderno de que a riqueza futura há-de tapar os buracos deixados pelas pontes e pelos comboios de luxo, ao mesmo tempo que se vai esmifrando o empregado, o funcionário e todo o tecido social que está fora do centro.

O país precisa de uma estratégia e de uma política. Não as tem.
Há uns ditos PECs que vão e vêem, e em cada réguada aumentam os trabalhos de casa que acabam sempre na cozinha do remediado, pois os grandes e entendidos acham que a melhor maneira é a de delegar as dores pela escala social abaixo, ao lavarem as suas consciências com uma ou outra cosmética avulsa que nos faça crer que também metem do seu.

Isto assim há-de acabar mal.

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