quinta-feira, abril 01, 2010

Todas as pessoas são normais até as conhecermos melhor

As televisões mostraram esta semana um caso chocante. Na América, uma ama foi apanhada por câmaras escondidas a maltratar um bebé de 11 meses. Perante o olhar horrorizado do mundo, a mulher esbofeteou pelo menos trinta vezes a criança, atirou-lhe objectos, arrastou-a pelo chão, abanou-a e pontapeou-a.
A mulher, esta ama do inferno, tinha sido recomendada aos pais por amigos. Descrita como uma ama de confiança, com vasta experiência no contacto com crianças, trabalhava para a igreja local e era considerada um pilar da comunidade.
Há grande dificuldade em perceber o que a levou a agir assim, e até os especialistas receiam avançar com explicações. O que pode levar uma mãe extremosa, temente a Deus e perfeitamente integrada na sociedade a agir como um demónio, torturando um ser indefeso?
Falar aqui em banalização do mal é quase um abuso da nossa paciência. A mulher fez o que fez porque podia, e porque estava convencida de que nunca seria apanhada. Perante o silêncio da criança, a indiferença inicial dos pais e a complacência da comunidade permitiu-se agir de uma forma desumana.
É este sentimento de impunidade que ajuda a explicar os casos de abusos de crianças no seio da Igreja Católica, que levaram o papa a abordar o tema em carta pastoral inédita. O que está aqui em causa nada tem a ver com o celibato dos sacerdotes. Tem a ver, isso sim, com o manto de silêncio que as autoridades eclesiásticas sempre estenderam sobre o abuso, com a complacência da comunidade, com o pavor e a vergonha de quem sofre abusos por parte de quem devia ser de confiança. Por parte de quem exerce da pior maneira, da maneira mais reles e desprezível, o seu pequeno poder.
Os abusos não terminam simplesmente porque um sacerdote é admoestado entre as quatro paredes de um mosteiro e depois mudado de paróquia. Impõe-se aqui a justiça dos Homens.

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