quinta-feira, abril 15, 2010

O Farripas

Permitam-me começar por apresentar aqui o verdadeiro Farripas.
O Farripas é o cão d'água de uma amiga minha. Esta amiga, amante do desporto, do ar livre e de tudo quanto mexe, permite amplas liberdades ao Farripas, para desespero de seu marido e amigos.
É, sem dúvida, o cão mais bruto e deseducado que conheço, mas ao mesmo tempo de uma meiguice que enternece.

Moram no Porto, mas têm uma casa de campo perto de Castelo de Paiva, onde passam muitos fins-de-semana. Aqui as suas amplas liberdades permitem-lhe ainda chafordar em tudo que tenha alguma água, poças e esgotos incluídos, para depois distribuir os respectivos salpicos pelos presentes ou mergulhar na pequena piscina e pôr fim ao nosso refrescante banho.
Já conta 13,5 anos, mas nem a idade o faz mais urbano.
Porém, há dois anos atrás aconteceu algo que me fez olhar o Farripas com mais condescendência e alguma admiração.

A minha amiga, e marido, iam de viagem, pelo que foi o Farripas estacionado num assim chamado hotel para canídios, na zona do Marco de Canavezes. Lá se encontraram com o hoteleiro a meio do caminho, onde o Farripas foi transferido para o jeep deste com a habitual choradeira da separação.
Já lá tinha estado antes mas, na primeira oportunidade, fugira. As buscas só tiveram sucesso ao fim de 3 dias.
Mas, desta feita, apesar dos cuidados redobrados, fugiu logo no primeiro dia, tendo-se as buscas iniciado na manhã seguinte. Ao final do dia, mesmo com a ajuda de cães pisteiros dos bombeiros locais, tudo quanto haviam encontrado foi o local onde o Farripas havia pernoitado.
Retomadas as buscas no segundo dia, nada. Até que, quando a minha amiga já regressava ao Porto, a meio da tarde, recebe um telefonema de uma vizinha em Castelo de Paiva, que lhe costuma guardar e cuidar da casa, a dizer: Oh minha senhora, está aqui o Farripas. Pode lá ser! Oh minha senhora, então eu não conheço o Farripas?
Meia volta na estrada e toca a rumar a Castelo de Paiva.

Entretanto outro telefonema, agora de um alemão a quem ela tinha arrendado a casa para uns dias de férias: Está um cão na piscina a brincar com os meus filhos, mas que não nos deixa entrar na água! Já estou a ir para aí, retorquiu ela enquanto acelarava excitada com a ideia de poder reencontrar o seu Farripas.
Ali chegada, lá estava o Farripas ainda todo molhado do relaxante banho na piscina, em amena brincadeira com os filhos do casal de alemães, a quem o Farripas frustava qualquer tentativa de entrar na piscina com ameaçadores latidos.
Estava pois confirmado. Apesar de visivelmente cansado, esfomeado e com as patas um pouco maltratadas, era mesmo o Farripas.
Mas como o Farripas nada diz, ficarei sempre com as minhas dúvidas:
O que fez o Farripas, então já com 11 anos de idade, ir para Castelo de Paiva (casa de fins-de-semana) e não para o Porto (sua residência habitual)?
Como se orientou?
Como percorreu os cerca de 50 Kms entre o Marco de Canavezes e Castelo de Paiva? Por estrada ou a corta-mato?
Como atravessou o Tâmega? E o Douro? A nado ou por pontes?
Na ausência de respostas e não percebendo eu nada de cães, ainda hoje considero esta aventura do Farripas um enorme feito.
A ponto de o considerar digno de um pseudónimo...
Cumprimentos,
Francisco Rangel da Fonseca

9 comentários:

  1. Anónimo12:48 p.m.

    Um caso de orientação, neste mundo-cão!

    Um abraço do

    JAC

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  2. Um beijinho grande do outro lado do mundo!!!

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  3. Anónimo3:01 p.m.

    Olá Francisco. Gostei deste post e vou esperar pelos próximos. Votos de boa escrita....beijinhos ....margarida de sousa fialho

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  4. E assim se demonstra porque é que nós fomos à Índia para chegar ao Brasil...

    Novos mundos ao mundo, novos caminhos para os cães d'água!

    'Mai nada.

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  5. Carocha12:16 a.m.

    Mas que surpresa, encontrar-te por aqui.
    Isto não pára de nortadas para ler.
    Com tanta nortada, vai soprar muita rabanada.
    Umas mais fortes , outras mais mansas.
    Todas carregadinhas de amizade.

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  6. Sus van Elzen12:20 a.m.

    "Ce qui fait que les amants et les maîtresses ne s'ennuient point d'être ensemble, c'est qu'ils parlent toujours d'eux mêmes".La Rochefoucault,Réflexions ou Sentences et maximes morales.
    Um abraço

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  7. Anónimo2:29 p.m.

    Boa sorte na escrita.....
    Um beijinho amigo
    Isabel de Sousa Fialho

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  8. Viva o Farripas que encontrou o caminho mais longo de volta a casa :-) e viva o nosso novo Nortadas, Francisco Rangel da Fonseca! Bem vindo!

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  9. Anónimo9:49 p.m.

    Caro Francisco Rangel Ainda bem que nos fala do Farripas o verdadeirto fenómeno de orientação! Óptimo pseud´nimo num tempo de desorientação! Vamos lá a ver o que nos vai brindar no Nortadas!
    Quem sou eu? Estou longe da vista e relativamente perto do coração. Não sou tripeiro de nascimento, mas de coração e amizades!

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