quinta-feira, abril 22, 2010

Já repararam?

Quando era menino ansiava tanto por esta altura do ano como um futebolista anseia a bola na pequena área.
O Inverno na Foz era muito rigoroso. Agora não sei como é, como já estou a ir para velho o meu corpo confunde tudo.
A minha casa, que já era velhota, deixava entrar vento e frio. Ainda me lembro que quando passei para um dos quartos do sótão, a minha melena (tinha melena na altura) esvoaçava quando as noites eram daquelas de meter medo. Só quem viveu frente ao Atlântico sabe do que falo.
Voltando ao assunto. Quando o tempo melhorava, vínhamos cá para fora famintos de sol. No meu caso era a possibilidade de poder voltar a andar nas rochas ao pé do aquário.
Quando agora olho para aquela congestionada e suja avenida não imagino como era possível sair de casa para as rochas apanhar mexilhões e ranhosas, tudo isto descalço.
Já uma vez aqui falei da barraquinha da Yoplait e de como a sua abertura iniciava a época balnear, mas isso era mais lá para a frente.
Até começarmos a tostar na Praia do Homem do Leme, tínhamos que fazer alguma coisa. E fazíamos, havia os carrinhos de rolamentos, que podiam finalmente sair da garagem e sofrer os melhoramentos da nova época de corridas.
Havia as bicicletas que corriam para o monte da ervilha, com os seus pequenos Kamikazes, dar saltos, partir uns braços e levar uns pontos.
E havia principalmente uma alegria contagiante das flores, dos animais, do mar, que nesta altura muda de cor.
Já repararam que o mar nesta altura muda de cor?

4 comentários:

  1. Pois Zé, eu compreendo-te e tu sabes que te compreendo!

    Tem muito mais do que natureza e por aí fora...

    Tem família, tem valores, tem enfim, outros tempos...

    Mas quando um sobrinho nosso escreve estas palavras, «Agora não sei como é, como já estou a ir para velho o meu corpo confunde tudo», uma pessoa fica assim "a modos que" a pensar:
    Oh "cum caraças", já estou com os pés p'ra cova!

    Grande abraço, Zé

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  2. Se calhar "já estou a ir para velho" seja um exagero, até porque me sinto em grande forma. Mas para novo não vou de certeza :-)

    Um abraço, Tio Joaquim

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  3. Belo texto. Ernesto

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