Aproxima-se o fim do ano lectivo e, com ele, a cerimónia da entrega de diplomas na Escola Europeia Bruxelas II.
Um dos laureados será a minha filha mais nova, que este ano completa o secundário. Lá estarei para os aplaudir e para me emocionar, especialmente quando chamarem pela Maria da Luz. Nessa altura hei-de pôr-me em pé e gritar a plenos pulmões "Bravo!".
Já sei que a dado momento o mestre de cerimónias vai pedir à assembleia que se levante pois vai ser tocado a 'Ode à Alegria' de Beethoven, que ali teimam em considerar como "hino da Europa". E é claro que aí vou ficar ostensivamente sentado, perante o olhar curioso ou desagradado de alguns pais nas cadeiras vizinhas.
Não há hino da Europa!
O último andamento da 9° sinfonia de Beethoven é uma peça musical bonita, mas ambígua, que uns iluminados nos querem impingir como pauta sagrada, mas enquanto hino vale talvez menos que o do Salgueiros.
Por estranho que pareça, essa peça era, em 1938, o ponto alto do Reichsmusiktage e seria também tocada nos aniversários de Hitler. Na China maoísta e durante a "Revolução Cultural", a 'Ode à Alegria' foi uma das raras obras de música clássica ocidental a ser tolerada pois consideravam-na progressista por exprimir a luta de classes. Essa mesma Ode serviu de hino para os medalhados olímpicos alemães até 1970 e foi igualmente adoptada como hino nacional do regime branco de Ian Smith aquando da declaração unilateral de independência da dita Rodésia. Guzman, o sanguinário chefe do Sendero Luminoso peruano, elege a 'Ode' como a sua peça musical preferida.
Obviamente, Beethoven não tem nada a ver com isto nem culpa alguma, mas convenhamos que o dito "hino da Europa" é saco onde cabe tudo, nomeadamente o oportunismo dos iluminados de Bruxelas.
Tenho a certeza que Beethoven até me agradece por o ouvir de rabo sentado na cadeira. De pé só se for para cantar com a Tina Turner
Ah grande Francisco!!! Eu também gritarei "BRAVO" de pulmões abertos quando chamarem pela tua Maria da Luz e ficarei emocionado por ver mais uma andorinha que deixa o ninho a caminho do sucesso, como já foi o caso do João. Também gritarei "BRAVO" aos pais por terem a felicidade da filhota levantar voo tão alto. A ambos (pais e filha) um grande abraço de parabéns, com votos de felicidade.
ResponderEliminarJá quanto à música, a música é outra! Tens inteira razão que não podemos pôr no mesmo saco os uns e os outros: a música tem que ser "nobremente" tratada, a menos que seja concebida para ser consumida para fins perversos. Eu ainda estou por saber por que é que damos tanta importância e temos tanto apego à música. Mas isso é tema que não vem agora a propósito. Talvez mais tarde, quando passar a emoção do "Bac". Mas queres que te diga a verdade? Deixa-os fazer todos os hinos que quiserem; nós só consumimos a música que queremos e quando queremos. Nem que Beethoven dê voltas na sepultura. Nesta matéria eu preferia que a "pobre" União Europeia não sofresse com estas questínculas e que lhe fosse dada ordem de marcha... Para a frente, marcha!!! Ficaria contente por te ver ouvir a Ode de pé, nem que no teu interior essa posição seja a tua forma de rejeitar o nexo entre uma e outra. Um abraço.
Vais ver na na altura a alegria da Ode não tem nada a ver com a Europa. Tem a ver com a Maria da Luz! Por isso, quando lá chegares, levanta-te e canta!
ResponderEliminarUm abraço do
JAC
Um hino, embora musical, não é uma música.
ResponderEliminarUma música é de todos. Um Hino é pertença apenas de uma comunidade, que com ele se identifica e que com ele é identificada.
Um hino cria-se como um filho. É a cumunidade que o faz nascer, crescer e alimentar de amor.
E nesta matéria não há espaço para adopções.
Nada nos impõe um hino. Em casa, ou no escritório, não o temos e nem por isso deixamos de ser pequenas comunidades (bem mais pequenas que a dos salgueirinhos, mas ainda assim autónomas).
Mas uma comunidade que o quer ter e não consegue criar o seu próprio hino não será nunca uma verdadeira comunidade. Por mais união que lhe chamem...
Apesar de tudo, sinto-me tentado a concordar o final da rabanada que antecede. É que a festa não é do pai babado, mas da filha.
E para a Maria da Luz será um marco para a vida.
Parabéns à filha! Parabéns aos pais!
farripas
PS (salvo seja): Lá em casa também estaremos todos a gritar Bravo (e os vizinhos que se danem)
Percebo que a emoção de ter uma filha laureada seja tão grande que lhe vá ser dificil ficar sentado. Mas concordo que os olhares incriminadores à sua volta o ajudarão a resistir à tentação de também se levantar e cantar e partilhar com todos a alegria que vai sentir.
ResponderEliminarPorque não ficar sentado, de Ipod nos ouvidos a ouvir Tina Turner ?Beethoven compreenderá e não lhe levará a mal.
Parabéns e mais ainda à Maria da Luz por ter vencido entre os melhores da Escola Europeia Bruxelas II.E que sorte essa de ouvires esse concerto fantástico ....
ResponderEliminarSe fosse comigo eu aplaudia de pé e efusivamente mesmo que lhe chamem hino da europa...
É que se fosse por cá essa escola não tinha nada de europeu e muito menos premiava o esforço, a dedicação e a sabedoria.Para além de que se fosse uma das melhores alunas numa escola portuguesa ainda era gozada pelos demais.
Por cá, nem havia essa cerimónia e a haver com sorte tocava a Micaela ou o Tony Carreira pois a alternativa (bem pior) era tocarem o nosso hino pela banda do coreto local.
Eu não gosto do nosso hino e não me importava nada de o trocar pelo dito hino da alegria e já agora será que podiam mudar a nossa bandeira, prender o sócrates, mandar para o degredo o Soares e toda aquela corja do 25/4 que empobreceu o País e enriqueceu o bolso próprio
...a bem da Nação!!!
P.S. um bj de parabéns à Maria da Luz