terça-feira, março 02, 2010

As vossas tarefas

Óleo de Ernst Ludwig Kirchner "Artistas" - 1927

Não costumo fazer futurologia e as mais das vezes que faço, engano-me.
Mas algo me diz que seria importante que houvesse à direita um partido sólido, sério, corajoso e prestigiado.
Dir-me-ão que o CDS está lá para isso. Pois eu responderia que há um PP que tem essa pretensão mas que lhe falta o músculo e sobretudo o esqueleto para ocupar plenamente o lugar.

Comecemos pelo esqueleto, ou seja, pela ideologia, os princípios, os valores. Aquilo é liberal ou democrata-cristão? É conservador ou social? Como se posicionam em relação à Europa?
No fundo, quer ser tanta coisas ao mesmo tempo que os contornos se desfocam.

Um exemplo: numa época em que o desemprego ultrapassa os 10% e a pobreza alastra, certos dirigentes em vez de invocarem a propósito os valores da dignidade humana e as pistas da encíclica "Rerum Novarum", gritam aos beneficiários do rendimento mínimo: "Vão trabalhar, seus madraços!".
Outro exemplo: como se explica que um discurso contra a corrupção permaneça ainda minado por práticas de financiamento submarinas que estão aliás sendo alvo de processos judiciais? Como se compatibiliza uma linguagem contra a ocupação partidária do aparelho de Estado com uma realidade em que pululam ex-ministros CDS em administrações do sector público, sendo que a reivindicação é de que haja mais lugares para os seus militantes?

Não basta exigir mais polícias para se arrogar como o partido da ordem, nem basta benzerem-se ou ajoelharem-se em capelas para se mostrarem como defensores da tradição.

Quando o esqueleto é esponjoso, o músculo não pode ser forte. Uns exercícios em nome dos pensionistas, dos agricultores em geral (como se fossem todos iguais), dos ex-combatentes ou dos ourives assaltados não faz uma política nem é um programa. Propor, nesta conjuntura, um choque fiscal sem mais, também pode dar votos, alguns, mas não chega para lhe confiarmos a chave do cofre.

E, todavia, insisto, era importante que a direita social e política do país tivesse um partido rijo e democrático em que se pudesse rever, sob o risco de ser seduzida por aventureiros bonapartistas ou por uma extrema-direita folclórica. E era importante que um tal partido pudesse ser, não uma muleta santanista, mas o parceiro crítico, vigilante e inovador da para já única alternativa que se apresenta ao descalabro socratino, um PSD renovado.

Como o prova aquela coluna à direita, há gente boa no CDS, mas é preciso mais do que isso.
Força companheiros!

5 comentários:

  1. Tomo isto como uma provocação (para outros que não para mim), embora haja aspectos em que o Douro tem razão. Espero que alguém responda e tenha ideias claras sobre os temas aqui levantados.
    Seja como for, o fundamental é ter gente boa, disponível e interessada e isso hoje não abunda em lado nenhum. Por outro lado, tenho imensas dúvidas sobre a existência real de uma direita social e política homogénea. Um dia falarei sobre isto.
    BLX

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  2. Força companheiros?! Ernesto

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  3. "- E qual o caminho que devo seguir?
    - Isso depende de onde você quer chegar, respondeu o Gato"

    JAC

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  4. Para o actual corpo dirigente a ideia è conquistar votos, representatividade. Para isso não se pode fazer certas ondas.O problema é que quando se cede aos princípios mais tarde ou mais cedo perde-se

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  5. e se no ponto de chegada não houver espaço para pernoitar, continua-se a caminhar, a caminhar e a caminhar? Uf, que a tentação de pedir boleia...
    farripas

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