sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Fazer tricot


Tenho uma Tia, que adoro, que quando passava lá em casa, andaria eu nos meus 7/8/9 anos, trazia sempre um saco cheio de lãs que ela transformava em camisolas e coisas do género. Nunca percebi para quem é que a senhora faria tanto pull-over e ainda hoje me pergunto que destino dava a tanto agasalho, mesmo em época veranil.

Eu entro nesta história porque era constantemente envolvido nas preliminares tarefas de transformar os feixes de lã numas bolas, que essas sim serviriam para alimentar as agulhas do crochet ou do tricot. "Oh Chico, dá aqui uma ajudinha", e eram minutos que me pareciam eternidades de braços estendidos, como uma roca. E quando terminava um dos feixes, lá vinha, apesar do meu cansaço: "Oh amor, vamos fazer mais um que aquela nem dá para uma manga".

Hoje o Público diz que o Sr. Teixeira, um dos responsáveis governamentais pelo desastre do país, mandou recado às empresas públicas para que congelem os salários. Gostava de perceber onde é que os salários dessas empresas pesam no orçamento de Estado, a não ser que haja ali muito auxílio público encapotado e à conta do erário. Mas depois da promessa de congelarem os salários da função pública, esta nova medidinha lembra-me a Tia tricoteira: "é o último, meu querido".

Um dia em que lhe disse que precisava de fazer xixi, a ver se me escapava, respondi-lhe depois, já trancado na casa-de-banho: "Vá pedir aos manos, aos grandes. Porque é que sou sempre eu, Tia?"

3 comentários:

  1. Muito boa!

    um abraço

    JAC

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  2. Não serão os salários a sair directamente do OGE, mas finalmente este cobre os défices das ditas EP's, onde os salários também pesam.
    farripas

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  3. Porque eras o preferido da Tia ( ou sera que ja nao te lembras?)!
    E as preferencias pagam-se. Hoje como entao,quando tinhas 7/8/9 anos.


    Um dos grandes

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