quarta-feira, janeiro 27, 2010

Novo Aeroporto de Lisboa

Os projectos de obras públicas preocupam-me.

Porque representam uma grande parte da capacidade de investimento do País, nos próximos anos, e porque serão feitos à custa do meu dinheiro e da minha capacidade de endividamento (o dinheiro e o crédito bancário também são bens escassos), além de me corresponsabilizar pelo seu reembolso, condicionando aquilo que posso esperar do futuro - crescimento económico, pensões e reformas, etc.

Porque tem, quase por definição, capacidade estruturante, ou desestruturante, do nosso País e do seu território.

Neste contexto, o projecto do NAL assume importância capital.

Desde logo, porque afecta o desenho de outros relevantes projectos: a 3ª travessia do Tejo (TTT), a linha da nova rede ferroviária (vulgo TGV) e, crucialmente, o potencial de plataforma logística do País.

Depois, porque o projecto se mantém apesar das alterações ocorridas nos últimos tempos e que não deviam ser ignoradas pelos decisores, como não serão ignoradas pelos investidores:
- o crescimento previsível da procura de tráfego aéreo para passageiros, reduziu-se substancialmente com a crise e será, provavelmente, ainda mais afectado pela retoma, por via dos aumentos de custos de combustíveis e de impacto ambiental;
- as dificuldades da TAP que, muito para além do aumento do número de passageiros, se reflectem na falta de capacidade de gerar receitas que cubram os custos;
- o triunfo das 'baixo-custo', cujo progresso nos últimos tempos tem sido espectacular, em Portugal, e tem permitido disfarçar a redução global da procura;
- o impacto das futuras linhas de alta-velocidade transfronteiriça na procura aérea, pelo menos intra-ibérica;
- o inesgotamento da Portela, aumentado pelas alterações da procura previsível, que lhe oferecem uma almofada de crescimento que alguns avaliam em 20 anos - que poderiam ser aumentados com alguns investimentos de (relativa) pouca monta e sobretudo se se abrisse o Montijo ao tráfego das low-cost...

Perante isto, só pode ser considerado surpreendente o "consenso" que começa a transpirar e que se estará a desenhar entre o PSD e o PS para se avançar com o projecto do NAL. Das duas uma, ou sabem alguma coisa que a generalidade dos especialistas do sector desconhecem ou então estão a privilegiar "outros interesses" em detrimento dos interesses específicos dos "transportes" e de Portugal nesta matéria.

Infelizmente, há fortes indícios neste último sentido - dificuldades de grandes empresas de obras públicas, agravados pelos interesses de grupos financeiros, etc.

No actual contexto, o NAL, que já era um investimento de risco, tem de ser necessariamente considerado um investimento de Alto, para não dizer altíssimo, Risco.

Que terá de ser pago. Por nós.

Que mais não seja, em contrapartidas aos futuros investidores. Nas remunerações garantidas do investimento (risco financeiro) e na privatização da ANA (perdas de receitas actuais - na venda - e futuras, nas taxas aeroportuárias; risco económico).

Ainda por cima com a transferência de um monopólio público, para o sector privado!!!

É possível um Portugal melhor. Mas é preciso querer!

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