A Assembleia da República empossou uma nova comissão encarregue de acompanhar a luta contra a corrupção. Vamos esperar para ver o que sai dali, mas se houver resultados é uma boa surpresa.
Em Portugal, a corrupção tem sido uma constante ao longo de décadas, senão mesmo de séculos. Os trabalhos de Vasco Pulido Valente sobre os "devoristas", o rotativismo e a I república são esclarecedores sobre essa esperteza manhosa com que certos amassaram fortunas e reputações. Alguns dos apelidos sonantes do país actual têm nos seus alicerces crimes banais de furto e de desvio de fundos públicos. A venda dos "bens nacionais" do liberalismo do século XIX foi um festival de compadrios e de pura extorsão.
O Estado Novo tampouco passou incólume pelo tráfico de influências e por milhares de negócios duvidosos. O post-25 de Abril tem servido igualmente a vilanagem, amplamente. E como somos um país pequeno, entre a esquerda e a direita do actual regime há mil laços e mil primos, numa camaradagem tolerante onde um BPN compensa um Freeport ou uma Felgueiras ombreia um Isaltino. Tudo boa gente.
O que é preocupante neste cenário é a habituação anestesiante, a familiaridade que vamos estabelecendo com estas práticas, que já são usos e costumes, "é a vida" e toca em frente, "quem sabe, sabe", e parvos são os que não percebem que é preciso exigir fruta.
Quando é assim, a coisa torna-se endémica e não é fácil tratá-la. Veja-se, por exemplo, a Itália onde seria necessário uma revolução para limpar a podridão. Vejam-se, em geral, os países tradicionalmente católicos, do sul europeu, onde contrariamente aos de tradição protestante em que não há confissão a redimir os pecados, um crime cura-se no confessionário e a 'patine' do tempo dá razão à fraude. É um mundo submarino que, se vem à superfície, procura a sombra de um sobreiro.
Mas, como costuma dizer um outro bloguista do Nortadas, é possível um Portugal melhor.
Esta pandemia é que ninguém quer combater! Pudera... dá lucros a uma minoria que superintende aos destinos da nau!...
ResponderEliminarQuando a nau for ao fundo, vão todos...
É possível, mas é preciso querer.
ResponderEliminarA razão porque o sublinho é salientar que este "estado de coisas" é de nossa inteira responsabilidade. Quer dizer, os que se aproveitam do sistema, compreende-se; os que nada ganham é que é difícil perceber como aceitam tudo e não fazem nada...
Outra pequena nota: todas as coisas estão ligadas e por mim não tenho dúvidas que a nossa "vontade" de não cumprir regras, por exemplo a da idade mínima para ver filmes no cinema, é muito co-responsável deste estado de coisas...
Quanto ao mais, como quase sempre, de acordo. Abraço