sexta-feira, janeiro 29, 2010

9,3%

9,3% de défice.

Significa que em cada 100 euros que o Estado gasta, 9,3 euros tem de ser pedidos a alguém.

As hipóteses são poucas. Ou nos pede a nós, contribuintes, rendimento-minimistas, funcionários públicos e pensionistas, ou tem de os pedir aos credores. Ao preço que estes estiverem dispostos a aceitar. E estes aceitam preços mais altos, quando consideram que a capacidade de pagar é mais duvidosa, quer dizer, quando o risco é maior.

Confuso? Não. Se um vosso primo vos pedir dinheiro emprestado, a primeira coisa que vos virá à cabeça é, naturalmente, a capacidade desse primo pagar (e, paralelamente, a credibilidade dele, que é como quem diz, se é pessoa de palavra, ou não). Depois, podemos pensar noutras coisas: para que é o dinheiro, a urgência do pedido, se é para investir ou para consumir, etc. etc.

Perante isto, custa a compreender como é que os projectos de despesa do governo se mantém quase inalteráveis, em especial nas obras públicas. Sobretudo, como é que não se reavaliam as consequências da crise que se está, ainda, a viver.

E, porventura mais importante, como é que não se filtram essas intenções de investimento pelo impacte que tenham na capacidade futura do País criar riqueza, mais riqueza e mais depressa, para poder deixar de pedir emprestados 9,3 euros por cada 100. E se possível, para poder criar algum excedente para pagar parte da dívida entretanto acumulada...

Ora, mesmo para quem considere que as intenções de investimento dos privados são praticamente inexistentes - e portanto que o Estado deve intervir para assegurar que alguém investe -, a verdade é que muitos dos investimentos que estão previstos não passam esse crivo. Pior ainda, muitos deles eram dificilmente justificáveis antes da crise e são completamente anti-económicos agora (auto-estradas sem procura e o novo aeroporto de Lisboa) ou não correspondem às soluções que poderiam maximizar a respectiva rentabilização (terceira travessia do Tejo e rede de Alta Velocidade).

Confuso? Não. A minha avó resumia a coisa assim: quem não tem dinheiro, não tem vícios. Que é como quem diz, em época de aperto cortam-se as despesas inúteis, reduzem-se as necessárias e evitam-se as supérfluas; investe-se cautelosamente e rentabilizam-se os activos já existentes. Exactamente o que o Governo se propõe fazer... não é verdade!?!

A pergunta que todos nos devemos colocar, perante a situação actual, é a seguinte: QUANTO É QUE ESTOU, EU PRÓPRIO, DISPOSTO A PAGAR, DAQUI A UM ANO, CINCO, DEZ, 25 OU 50 ANOS, POR CADA 100 EUROS QUE O ESTADO VENHA A GASTAR agora (ou a induzir os privados a investir, que é o mesmo)?

Sublinhe-se que por cada 1 euro que o Estado projecta investir, irá estimular os privados a investir 3 euros, dizem muitos entendidos. Nos projectos de obras públicas. Fora do Orçamento de Estado - que é como quem diz, à margem do debate e controle parlamentar... (cerca de 6% do PIB, coisa pouca).

Privados esses que, como é evidente, o farão a bem da Nação!!!

E depois digam que a culpa é das agências de rating...

É possível um Portugal melhor. Mas é preciso querer.

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