Não devia ter feito a barba

Tinha pensado que esta manhã escreveria a minha opinião sobre as listas. Dei uma vista de olhos pela imprensa e concluí que não sou capaz de alinhar nesse drama de faca e alguidar do Coelho dentro ou Coelho fora. Isso é o menos, como as formiguinhas.

Ainda não sei pôr música no blogue. Fosse perito nisso e esquecia-me da ressaca desta noite escolhendo um trolaró ligeiro, dos meio esquecidos mas sempre agradáveis, a distrair os raros leitores matinais das depressivas notícias do dia.

Há alturas em que um tipo se entusiasma e pensa que é desta que algo vai mudar e levanta-se de manhã de um pulo, faz a barba e lava os dentes e acredita que depois do duche está ali pronto para o que der e vier. Essa ingenuidade é um falso Avastin que não lhe deixa ver os sinais percursores, apesar da experiência, apesar da idade, apesar das cicatrizes.

Há sempre maneira de não gostar deste ou daquele nome, mas o que conta é a percepção geral. Até pode haver uma ou outra boa notícia e a gente agarra-se a isso como um náufrago, a querer adiar o despertar, como quem se diz "mais cinco minutinhos e recupero no pequeno-almoço". Mas aquilo já não serve de bóia e o esforço que se faz para prolongar o sonho acaba afinal por nos acordar de vez e mais vale saltar da cama e procurar um café curto, forte, quente.

Trago um penso no rosto por causa da gillette turbo. Ou por causa do murro que levei nos queixos? Mas se foi no estômago que o senti? Partiu-se-me qualquer coisa no sótão. Desligou-se um fio no cérebro. Os franceses têm uma palavra para este meu amargo de boca: "dégout".

Hei-de curar-me.