A expressão “silly season” é uma das mais abomináveis da língua
portuguesa. Da língua portuguesa, sim, porque a expressão importada do
Reino Unido foi nacionalizada, aportuguesada, e hoje enche a boca de
políticos, jornalistas, empresários, intelectuais e do homem do talho,
do Minho ao Allgarve. Estão documentados casos de bebés portugueses
que pronunciam “silly season” ainda antes de dizer “papá” ou “mamã”.
No tempo em que os animais falavam, “silly season” era um período que
começava nos primeiros dias de calor, durava um par de meses, e
caracterizava-se pelo surgimento de notícias frívolas nos meios de
comunicação social. Está bem de ver que este é o género de coisa que
agrada aos portugueses, que se perdem por coisinhas frívolas,
mesquinhas ou apenas ligeiramente estúpidas.
Claro que um par de meses não chega para a quantidade de coisas
frívolas que enche as nossas cabeças. Afinal, há jornais que vivem em
regime de permanente “silly season” e por isso estampam na capa de
dois em dois dias as mamas da Nereida Gallardo e as proezas sexuais
(ou a falta delas) de Cristiano Ronaldo.
Há estações de televisão que prosperam o ano inteiro com histórias do
homem que mordeu o cão. E há políticos cuja carreira, bem espremida, é
uma sucessão de episódios, anedotas, gaffes. Nas palavras imortais de
Octávio Machado: “Vocês sabem do que estou a falar”.
Decrete-se, por isso, o fim da “silly season”. Melhor: assuma-se, de
uma vez por todas, que a nossa vida pública é uma anedota pegada. All
year around. E não se fala mais nisso.
(texto publicado no semanário Grande Porto)
Ando distraído. Não sei quem é a Nereida Gallardo. E se lhe vi as mamas, não as associei ao nome.
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