terça-feira, maio 26, 2009

Mitos da democracia à portuguesa

Sempre que ouço, como hoje no Prós e Contras, estas pessoas bem formadas e, quero crer, bem intencionadas a falar da necessidade de consensos suprapartidários para salvar o País, não consigo deixar de estranhar.

33 anos depois de Portugal ter entrado numa democracia constitucionalmente garantida, estas pessoas ainda parecem necessitar de uma visão unificada do País. Para mim, tal resulta de uma má compreensão da Democracia.

Precisamente por sabermos que esse tipo de consenso é pouco provável em sociedades plurais, é que a democracia, como sistema, é superior às alternativas. Aceitar isto, implica aceitar também que a vontade da maioria resulta de uma escolha entre opções. Isto implica debate e contraposição de ideias. Não resulta de qualquer consenso artificial. Pode até resultar num consenso, pontualmente, mas este há-de ser um resultado e não um objectivo, nem muito menos uma condição.

Outro mito, igualmente pernicioso - e para mim particularmente irritante - é a ideia de que os políticos ganham mal, e por isso é que não há melhores.

Esta premissa assenta num pressuposto abusivoo que se generalizou e que muito me incomoda: a ideia que 450 euros são suficientes para a maioria, que 700 euros de salário médio é razoável, PORQUE apenas uns quantos, poucos, merecem muito mais. Entre esses, coitaditos, os políticos estariam mal tratados porque apenas ganhariam 2 ou 3 mil euritos. Probrezinhos.

Se se optasse por uma ideia mais séria de responsabilidade, individual e colectiva, diria que é fácil concluir que os políticos portugueses são bem pagos; até demais. Talvez não ganhem tanto como os banqueiros ou os gerentes das maiores empresas. Mas ganham muito mais do que a maioria. E compensam-se e dotam-se dos mecanismos adequados para se recompensarem. Digam lá quais são os políticos nacionais que passam dificuldades, se forem capazes de os encontrar...

Para já não falar das mordomias que se auto-atribuem, seja em ajudas de custas, seja em reformas e subsídios acumuláveis... Haja alguma moralidade e tenha-se vergonha de continuar a falar das dificuldades salariais dos políticos. Se querem falar de alguma coisa, falem da predominância das direcções partidárias na escolha dos políticos. Aí sim, aí é que se torna difícil entrar na política. Nem todos evitam a política por causa dos salários; creio até que serão muito poucos. Agora digam lá quantos são os que se afastaram ou foram afastados por não concordarem com as respectivas direcções partidárias?

Mitos. Com eles se enganam os povos. E com a conivência de muito jornalista; possivelmente até bem intencionados...

É possível um Portugal melhor. Basta querer.

1 comentário:

  1. Tens razão: é um tique que vem de longe, isto de querer que sejamos todos boa gente e que nos devemos todos unir e orar pela mesma cartilha.

    ResponderEliminar