sexta-feira, março 20, 2009

LIMBOS


Se no dia-a-dia concreto há mitos a encobrir factos, imagine-se a mitologia que povoa o domínio das ideias e do espírito.

Um desses mitos é o "limbo". Refiro-me ao "Limbus infantium", ou seja, o lugar ou estado em que, segundo certos católicos , as crianças que morreram não baptizadas esperarão o fim dos tempos. Confesso que quando me ensinaram isto fiquei muito impressionado, pois imaginava uma sala grande cheia de bébés e miúdos a olharem uns para os outros e sem saberem o que fazer.

Mais tarde aprendi que havia também um "Limbus Patrum", ou seja, um outro lugar ou estado em que os patriarcas da Igreja, que viveram e morreram antes de Jesus Cristo, ficavam até que o Messias subisse ao Céu. Este "Limbus" terminou , portanto.
E se bem percebo, o Papa Bento XVI acaba de "fechar" também o "Limbo das crianças", ao autorizar a publicação de um documento de Abril de 2007 da Comissão Teológica Internacional, encomendado por João Paulo II, e que admite que aquelas crianças afinal poderão ir directamente para o céu.
Convenhamos que é um progresso que ainda mais nos afasta da tese aterrorizante de Santo Agostinho, seguida noutros concílios, que afirmava a ida directa para o inferno desses não baptizados.

Ou seja, a própria Igreja Católica reconhece hoje que esta ideia do limbo é bem capaz de ser um mito.

Estas coisas levam o seu tempo.

4 comentários:

  1. Douro:
    Concordo consigo relativamente à impressão que causava a noção de limbo. Desde miúdo (muito pequeno) sabia, idependentemente de qualquer decreto Papal, que a misericórdia de Deus bastaria para garantir a bebés não baptizados o Céu.
    Acontece que o limbo nunca foi aceite como um dado pela Igreja, muito menos foi um dogma e sempre foi apenas uma das muitas hipóteses teológicas, e existiu, como o Douro diz, e bem, apenas na cabeça de "alguns cristãos" (uns mais conhecidos do que outros...).
    O Douro foi, portanto, ensinado por um deles.

    O que aconteceu agora não foi, portanto, um recúo, mas antes um avanço, na medida em que a Igreja pôs termo a uma tradição que considera incorrecta.

    A Igreja Católica eliminou o limbo ao afirmar que reflecte uma “visão excessivamente restritiva da salvação”.

    Esta posição foi apresentada por um documento publicado pela Comissão Teológica Internacional, vinculada à Congregação para a Doutrina da Fé.

    Esta comissão estudava há vários anos a questão do limbo e a publicação do documento - muito esperado - foi autorizada pelo Papa Bento XVI.

    O limbo, como disse, nunca foi considerado um dogma da Igreja e não é mencionado no Catecismo.

    Ou seja, a Igreja considera o baptismo como o caminho para a salvação, mas, nestes casos, a misericórdia de Deus é maior que o pecado. O que me parecia, de resto, óbvio.

    Diz-se que “A graça tem prioridade sobre o pecado e a exclusão de crianças inocentes do céu não parece refletir o amor especial de Cristo pelos pequeninos"

    A Comissão Teológica Internacional também afirma que “é cada vez mais difícil aceitar que Deus seja justo e misericordioso e, ao mesmo tempo, exclua crianças que não têm pecados pessoais da felicidade eterna”.

    A Comissão Teológica Internacional começou a estudar o limbo em 2004, quando o actual Papa era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Este avanço é, portanto, mais uma coisa que se deve ao actual Santo Padre.
    Luís

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  2. Muito obrigado Luis pelo seu comentário. Não me considero um conhecedor da teologia católica e apenas constato como é que certas hipóteses evoluem. O meu ponto essencial é o de que seremos mais livres, na expressão nobre do termo, se formos aclarando que certas ideias são apenas mitos e que nos cabe o direito e a responsabilidade de os submetermos à crítica racional. Outra conversa será abordar estes assuntos numa prespectiva de fé , mas nisso não toco pois penso que é assunto privado de cada um.
    Saudações calorosas

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  3. Caro Douro:
    Sou católico, mas por isso (eu diria mesmo, "e por isso") acho que a liberdade de pensamento, mesmo em questões relacionada com a fé, é importante.
    Para os católicos, Deus é Pai. Ora, uma Pai justo dá liberdade aos seus filhos, embora lhes aponte caminhos e afirme uns caminhos como certos e outros como errados.
    O nosso problema é que temos a tendência de esquecer que Deus é Pai, e elaboramos uma imagem de Deus à nossa imagem e semelhança: um Deus castigador, como nós gostamos de castigar; um Deus controlador, como nós gostamos de controlar; um Deus impediedoso a julgar, como nós somos impiedosos a julgar os outros, etc...
    E depois, claro, perante esse deus, o que queremos é fugir dele.
    Só que, bem vistas as coisas, não estamos a fugir d'Ele...estamos a fugir de nós próprios...
    Cumprimentos
    Luís

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  4. realmente, a ideia de uma sala cheia de bebés é um bocado assustadora!

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